terça-feira, 30 de setembro de 2008

Os limites e os riscos da Assistencia Técnica Gratuita


Caro Marco também acho que com a assessoria técnica, ou assistência técnica gratuita (usarei as duas definições como sinônimos), se resolve somente uma parte do problema, a outra está ligada justamente à (in)capacidade técnico-construtiva da mão de obra presentes nestes lugares. Diria, mesmo correndo o risco de ser banal, que se a mão de obra existente, moradora destes lugares, fosse além de ser capaz, pois o espaço que ela constrói é um espaço que atende às necessidades delas, capacitada, além de construir um espaço tecnologicamente melhor, já teria conseguido emprego no setor da construção civil, pois hoje em dia é o setor que mais está à procura de mão de obra, sem, entretanto, conseguir satisfazer sua demanda.
Portanto, a meu ver, há de se associar sim, à assistência técnica, um programa de capacitação e formação de mão de obra, para que os moradores possam construir um espaço menos precário e mais econômico. Mais econômico pois o espaço construído das vilas e favela é extremamente caro do ponto de vista financeiro e social. Do ponto de vista financeiro por causa do processo de autoconstrução que se pauta em cima de um conhecimento pragmático que ainda não consolidou procedimentos e soluções tradicionais de construção afinadas e adaptadas ás condições ambientais do lugar (e é muito provável que isso nunca vai acontecer), resultando na adoção de soluções dispendiosas, oriundas da cultura construtiva que permeia nossa sociedade. Para dar um exemplo baste notar a profusão do uso do concreto armado para situações onde este poderia ser dispensado.
Do ponto de vista social porque, se os preciosos e parcos recursos utilizados para a construção fossem empregados utilizando soluções tecnológico-construtivas apropriadas, poderiam parte deles serem utilizados para outros fins, quem sabe até para o lazer e a educação.
Voltando ao programa de capacitação acho que deveriam ser procurados parceiros para fazer isso. Nós do Escritório de Integração podemos ser um deles já que fazemos isso a muito tempo, e uma universidade seria que pensasse à extensão como uma fonte de investimento na formação profissional dos seus alunos, poderia encarar isso com muita tranqüilidade.
Existe também um risco que a proposta da assessoria técnica gratuita levanta, assim como está formulada e que pode levar ao seu total fracasso. Para evitar que isso possa acontecer acho que deveria se investir mais na sua concepção respondendo às demandas: que tipo de assessoria técnica é essa e aonde utiliza-la? A ideia que permeia o meio institucional que promove esta proposta (que diga-se de passagem já constitui um avanço) é que o atendimento deva-se dar de maneira pontual, assim a ideia seria aquela de um banco de atendimento e é aqui que está o risco especialmente se isso for pensado para os assentamentos informais existentes nas grandes cidade. Se o objetivo é a melhoria também destes espaços como um todo, a utilização de atendimentos individuais e pulverizados, não irá trazer os beneficios esperados, mas muitas insatisfação, pois a abordagem, para ações de melhoria destes locais, deve ser de tipo sistêmico, para além da moradia incorporando a melhoria dos precários sistemas de mesoestruturas existentes (pavimentação, saneamento básico, etc.). Se a proposta continuar a se limitar à habitação estará fadada ao desastre. Pela conformação deste espaço, ainda tão incompreendido, vejam as soluções de intervenção adotadas pelo programa Vila Viva em Belo Horizonte que resolve derrubar o tecido existente e propor tipologias habitacionais alheias à experiencia de morar de quem vive na favela, são necessárias ações integradas e sistêmicas. Infelizmente a complexidade do espaço (no seu sentido mais amplo fisco, social e cultural) da favela ainda não é suficientemente objeto de analise, ou ainda a abordagem utilizada para sua compreensão é equivocada de tal maneira a propor soluções de intervenções que irão inevitavelmente se perder. Estou me delongando muito, mas esta ultima parte explica porque o Escritório de Integração tanto criticou a proposta institucional da Arquitetura e Engenharia Pública, pois esta concebia o mesmo tipo de intervenções que estão previstas na assistência técnica gratuita. Acho que uma proposta dessa pode valer para certas periferias onde há a individualização da propriedade e onde existem mesoestruturas que funcionam, penso principalmente as periferias das cidades médias, mas para os assentamentos informais das grande cidades e das metrópoles ela deve ser necessariamente repensada, ao não ser que se pretenda trabalhar unicamente com o espaço do morar individual, esquecendo, ou não querendo ver que este compõe um espaço maior, enfim, esquecendo, ou não querendo ver que existe uma cidade.
Alfio Conti

Autoconstrução poderá receber assistência técnica gratuita

"O mercado de trabalho para engenheiros civis, arquitetos e urbanistas pode se ampliar para um novo nicho: o de assistência técnica às famílias de baixa renda. A Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) aprovou Projeto de Lei que assegura assistência técnica pública e gratuita a habitações de interesse social. Os serviços de engenharia e arquitetura contratados pelo poder público incluiriam a construção de novas residências, reformas, ampliações ou regularizações fundiárias.

O presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), Carlos Roberto Bittencourt, aponta que a população ganhará qualidade e segurança em suas habitações e, indiretamente, valorizará os profissionais. Marcos Túlio de Melo, presidente do Confea, também concorda que o projeto representa uma forma de valorização dos profissionais. "Será uma oportunidade de mostrar para a sociedade o quanto representa a engenharia para o desenvolvimento e a organização das cidades e para a preservação do meio ambiente", finaliza." Fonte: Revista AU

E quem irá qualificar a mão-de-obra para trabalhar nesses projetos?

domingo, 28 de setembro de 2008

FAVELA: ANÁLISE CRÍTICO-PROPOSITIVA DAS ABORDAGENS EXISTENTES

Amigos,
às vesperas das eleições municipais e com as "obras" do Programa Vila Viva, financiadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento, andando "a todo vapor", cabe refletirmos um pouco para entender o que a Favela é, como é vista, analisada, compreendida por estes atores que estão hoje em dia transformando-a em muitos casos radicalmente.
Quais as transformações previstas, e o porque destas transformações, são chaves importantes para avançarmos na compreensão destes espaços que são parte integrantes e estruturais da nossa cidade.
Partindo do pressuposto que a visão tradicional sobre este espaços resultou na elaboração de propostas de intervenção que foram incorporadas a estes espaços so do ponto de vista formal e não substancial, sugerimos a leitura do artigo em anexo com a intenção de provocar uma discussão e uma reflexão a respeito.
Abraços.
Alfio Conti

Favela: análise crítico-propositiva das abordagens existentes

Favela: analyzed criticized deliberate from the approach existing


Autor: Alfio Conti[1]
Abstract
The article intends to find, trough a critical analysis of the existing approaches used for the study and the comprehension of the slum, those that guarantees, apart from an extensive and multidiscipline geographical view, viability in terms of operationality.
The text is divided into three parts. The first one fulfills a criticism of the classical-radical approach, showing its limits and contradictions; the second part analyzes the other existing approaches, considered as alternatives, evaluating its potentialities; the third and last part, divided into two sections, wants to find, in the approach developed by Malard, the elements and the ways to define an alternative proposal, extensive and complete, which is able to substitute the radical approach, whether in analytical terms or in operative terms.
Keywords: favela, radical-geographical approach, phenomenology.


Resumo
O artigo propõe-se a encontrar, através de uma análise crítica das abordagens existentes utilizadas para o estudo e a compreensão da favela, aquela que garanta, além de uma visão geográfica abrangente e multidisciplinar, uma viabilidade em termos de operacionalidade.
O texto divide-se em três partes. A primeira parte desempenha uma crítica à abordagem clássica-radical, mostrando seus limites e contradições; a segunda parte analisa as outras abordagens existentes, consideradas como alternativas, avaliando suas potencialidades; a terceira e última parte, dividida em duas seções, busca encontrar, na abordagem desenvolvida por Malard, os elementos e os caminhos para definir uma proposta alternativa, abrangente e integrada que seja capaz de substituir a abordagem radical, quer em termos analíticos quer em termos operativos.
Palavras-chave: favela, abordagem crítica radical, fenomenologia.

1 Breve retrospecto crítico
Parece supérfluo dizer que contar a história das favelas é contar uma parte importante da história das nossas cidades. Essa frase, entretanto, até há poucas décadas poderia criar sérios constrangimentos para quem ousasse pronunciá-la.
Por trás dessa afirmação está o fato de que a favela, atualmente, não é mais considerada um subproduto casual e aleatório do processo de urbanização brasileiro, mas um fenômeno cujas conotações se encontram estritamente relacionadas ao conjunto de modificações ocorridas recentemente, em uma pluralidade de escalas e âmbitos, na nossa sociedade e no mundo como um todo[2].
A produção acadêmica a respeito dos resultados dessas modificações é vasta e está em contínua ampliação. O debate encontra-se aberto, apesar de o foco da atenção estar concentrado nos efeitos dos processos nos países centrais.
O debate no que diz respeito às conseqüências desses processos no Brasil é dominado pelas análises produzidas pelos centros consolidados de pesquisa, os mesmos que dominam o debate no nível mundial e que acabam reservando, para essas questões, uma atenção e um espaço pautados e mantidos vivos, em boa parte, a partir da demanda de formação acadêmica que vem de parte da intelectualidade oriunda dos países onde esses fenômenos acontecem.
Essa situação complica-se quando se observa que a orientação das instituições de fomento e ajuda internacional continua sendo influenciada por esses mesmos centros de pesquisa mencionados acima, pautada nos resultados das atividades neles desenvolvidas por alguns poucos interessados. Estes últimos, para poder atender o objetivo de nortear, através da produção de conhecimento, as atividades das agências de fomento, acabam cobrindo um conjunto da realidade cuja complexidade requer uma capacidade de síntese além das capacidades de qualquer cientista ou de qualquer grupo de trabalho. Afinal, o resultado desse trabalho é, na melhor das hipóteses, uma visão distorcida e sempre marcada por parcialidade e generalismo em razão do grau de subjetividade imposto por interesses e pontos de vista do próprio estudioso e pela orientação ideológico-política do próprio centro de pesquisa. O mais grave é que essa postura repete-se ao longo de toda a cadeia da produção do conhecimento que une centros internacionais de pesquisa, agências de fomento e agentes locais de desenvolvimento.
Os danos maiores acontecem quando se observa que, para poder aspirar a alcançar as fontes de financiamento das agências internacionais, as poucas agências locais empenhadas no desenvolvimento de práticas alternativas de intervenção, ao buscar um certo grau de autonomia intelectual e um diferencial a partir da constatação dos parcos resultados atingidos até hoje, têm de se submeter à adoção de uma visão oficial já definida e sacramentada.
A influência na determinação de uma visão oficial do que seja "favela" é muito forte. Por visão oficial entende-se aquela que contribui para que sejam definidas, elaboradas e implementadas políticas específicas para atingir certos objetivos, ao invés de outros, por parte dos organismos de financiamento internacional, principalmente do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, do Banco Mundial – WB e da United Nation Conference for Human Settlements – UNCHS.
Pugh (2001), no seu trabalho "The theory and practice of housing sector development for developing countries: 1950-99", revela como e de que maneira a visão oficial evoluiu e mudou ao longo dos 50 anos de existência das políticas de ajuda internacional.
A existência de uma visão oficial justifica-se a partir da incapacidade por parte da maioria das nações subdesenvolvidas, uma parte considerável das quais tinha conquistado há pouco sua independência[3], de responder, de maneira adequada, aos seus vários problemas internos, dentre os quais se destaca a amenização dos efeitos da explosão demográfico-urbana das cidades-capitais em razão de um forte êxodo rural-urbano.
Essa visão tem mudado ao longo dos anos e tem acontecido em razão de fenômenos exógenos e marcadamente por ajustes de natureza econômico-política e ideológica na escala planetária, que produziram duas conseqüências determinantes, ambas resultado da necessidade de dominar essas questões:
• adoção de uma perspectiva determinista em relação aos processos ocorrentes;
• homogeneização e uniformização planetária das análises desses fenômenos.
Resultado dessa postura foi a colocação em segundo lugar, frente à necessidade de buscar respostas em tempo rápido, da compreensão das especificidades e das verdadeiras essências dos fenômenos, entre os quais estão as favelas. As práticas desempenhadas nesses lugares pela população moradora e o resultado dessas práticas em termos de produção do espaço foram por longo tempo ignoradas.
Atualmente, essa postura, apesar de estar ainda presente, é colocada cada vez mais em discussão, especialmente por parte de quem acredita que o conhecimento e o estudo desses lugares sejam uma etapa obrigatória para a compreensão de uma realidade que transcende a dimensão desses fenômenos, incidentes nas sociedades como um todo.
Esse enfoque pode ampliar a compreensão dos fenômenos, já que possibilita o envolvimento de um número maior de agentes, potencializando os recursos (humanos e físicos) à disposição, tanto no sentido horizontal, colocando no mesmo plano de discussão agentes que historicamente tiveram poucos contatos nesse sentido, quanto no sentido vertical, viabilizando uma postura propositiva também por parte dos agentes locais[4].
A concretização desse cenário pode possibilitar a refutação da hipótese — não comprovada, mas plausível — de que a situação existente, em vista do alcance limitado dos resultados obtidos pelas variadas políticas produzidas ao longo de quase quarenta anos de atividade, seja fruto da adoção intencional de um olhar desviado para com esse fenômeno, dentro do objetivo oculto de impossibilitar a realização de um conhecimento que possa chegar à compreensão da íntima essência desses lugares, chancelando, desse modo, o conhecimento epidérmico como o único possível e sacramentando a adoção de manifestações e feições desse fenômeno enquanto mero elemento recorrente e casual na paisagem urbana.
Essa adoção tradicionalmente absorve e transpõe elementos da favela para o resto da cidade e vice-versa, através de um processo de osmose e graças às variações de pressão, em parte fomentadas por programas e políticas públicas. Quando ocorre, essa adoção é a manifestação de uma intencionalidade ambígua, desviada e hipócrita, que não permite outra coisa senão a produção de um conhecimento que objetiva a não solução do problema. O problema não resolvido e sua permanência servem de consagração ao fazer hipócrita que, concretizando um paradoxo, perpetua a adoção de uma única pauta metodológica e investigativa para com esse lugar, na crença dogmática de que o caminho seja um e um só.
Mas esse dogma parece estar com os dias contados, porque se fazem ouvir, cada vez mais e cada vez com mais força, vozes destoantes. Primeira porta-voz dessas críticas, Berenstein (2003, p.14) foi capaz de afirmar que "frente a esta complexidade não é possível definir uma única pauta que resulte em um modelo universal de atuação. Ou seja, não é possível propor um modelo de soluções que seja universalmente reproduzível". Como conseqüência dessa assertiva, pode-se entender que também não é possível propor ferramentas, metodologias e modelos cognitivos e de análise universalmente reproduzíveis.

1.1 Abordagem convencional
A partir dos indícios da existência da produção de um conhecimento que poderia ser chamado de improdutivo, cabe refletir a respeito do seu grau de intencionalidade, enfim, do seu grau de hipocrisia.
Há evidências de que, se a intencionalidade realmente existir — e tudo indica que sim —, ela não apresenta as conotações de uma estratégia oculta, não se tratando portanto de um cálculo objetivo e frio. Parece mais plausível enxergar o conhecimento improdutivo como um dos efeitos produzidos pela já mencionada pressão de osmose que existe entre os grupos sociais e que é uma das características da nossa sociedade. A sociedade brasileira contemporânea encontra-se hoje ainda fortemente segmentada, sendo herdeira de uma postura que fomenta essa segmentação e que se respalda em âmbitos diferentes:
• nacional e local, como resultado de uma postura histórica de incompreensão entre os componentes sociais e de suas manifestações em todos os sentidos, com a exclusão recíproca como conseqüência;
• supranacional, regional e mundial, com a aplicação de modelos e parâmetros alheios às realidades existentes.
Essa postura permeia, nos âmbitos mencionados acima, tanto o pensamento das academias quanto o fazer administrativo e político, ambos reflexos de uma lógica em cascata, imposta hierárquica e autoritariamente, da qual poucos conseguem escapar.
Os dados do último censo de 2000 (FJP, 2002), corroborados por dados locais produzidos por várias instituições (CEDEPLAR, 2004), indicam que a favela, ao invés de desaparecer, ao invés de ser absorvida pela cidade, consolidou-se e alastrou-se quase que livremente, transformando tanto suas feições mais evidentes, de natureza físico-urbanística e arquitetônica, quanto aquelas mais escondidas, de natureza econômica, sociológica e cultural.
Trata-se de mais uma evidência da incapacidade por parte da visão oficial, nas suas vertentes analítica e propositiva, de nortear esse processo, admitindo sua defasagem com a realidade.
De fato, o que corrobora a visão oficial é a maneira de descrevê-la, feita quase que exclusivamente através do olhar proposto pela geografia radical, olhar este que influencia o conhecimento, as atitudes, as posturas e as tomadas de decisão. Não se pretende, nesse contexto, diminuir a importância dessa abordagem, que está, e esteve, na capacidade de problematização histórica do fenômeno, colocando o estudo da favela como uma questão a ser enfrentada e debatida dentro de uma pauta de discussão mais ampla. O que se coloca é a crítica a um tipo de abordagem que, se por um lado permitiu o nascimento de uma dialética discursiva sobre essas questões, por outro hegemonizou o diálogo, cristalizando-o progressivamente, de maneira a abaixar e inibir as capacidades de compreensão, conhecimento e proposta.
A hegemonização do discurso, obtida ao longo dos anos, é conseqüência da incapacidade da abordagem radical para requalificar, flexibilizar e atualizar seus argumentos em consonância com as mudanças globais, e isso resulta, agora, em uma hegemonização que acabou sendo mascarada pela incorporação instrumental de temas atuais como, por exemplo, a questão do meio ambiente.
A abordagem radical teve, em um primeiro momento, repercussão e resultados positivos, na medida em que tornou possível, pela sua aplicabilidade em todas as escalas, o estudo da favela com recortes analíticos e metodológicos que favoreceram a adoção de um instrumental de análise e de intervenção; por sua vez, esse instrumental possibilitou, a partir de pressupostos teóricos assumidos incondicionalmente, a implementação de ações em escala local. Entretanto, o foco da análise, retido e amarrado na assertiva incondicional de que o fenômeno favela é única e exclusivamente o produto de um processo de exclusão (social, espacial, econômica e política) de uma parte da população urbana brasileira operado por uma ação conjunta entre Estado e capital pautada na extremização do processo de produção de lucros e dos ganhos do capital, acabou determinando um leque de propostas que nunca atingiriam os resultados desejados e que, ao contrário, se apresentaram como um conjunto de práticas inconcludentes ou com resultados de curta duração.
Afinal, por mais que isso possa parecer paradoxal, a abordagem radical acabou por se transformar em mais uma esperta estratégia de manutenção do status quo, articulada por parte do capital e de seus representantes institucionais dentro das instâncias políticas e decisionais nos três âmbitos de governo.
A questão mais crítica na abordagem radical está na vinculação entre a dimensão global e a dimensão local, especialmente no que diz respeito à relação entre análises, propostas e objetivos construídos a partir da escala global e ações e práticas desenvolvidas na escala local que, fortemente condicionadas pelos primeiros, acabam não conseguindo operacionalizar a implementação dos objetivos propostos.
Essa defasagem pode ser imputada tanto à falta das adequações de escala necessárias à passagem do global para o local quanto à unidirecionalidade (global-local) dessa passagem, não existindo uma alimentação no sentido contrário (local-global).
As tentativas relacionadas à escala local, tanto no campo do conhecimento em si, quanto no campo das metodologias e propostas, acabaram se transformando em atividades pontuais de curto alcance devido à falta de uma amarração estratégica mais abrangente, que não existe de fato e que deveria ser comandada por uma instância de alcance nacional.
A falta dessa estratégia acabou condicionando as tentativas de tal maneira, que é quase impossível encontrar exemplos de articulação de propostas de análise e estudo dentro de uma ordem mais abrangente[5]. Se isso acontecesse, seria possível viabilizar a integração da produção de conhecimento e das propostas dentro de um quadro definidor de políticas públicas capazes de alterar significativa e positivamente essas realidades.
Infelizmente a prática recorrente é outra, e o discurso oficial ainda se sustenta em velhos argumentos, adotando, de maneira instrumental e dentro de um marco teórico dado a priori, outras questões e temáticas.
A carência de infra-estruturas e moradias dignas gera impactos sobre o meio ambiente e, em particular, sobre a qualidade de vida da população. No caso específico dos assentamentos peri-urbanos, a chamada cidade informal tem sido espaço não apenas de concentração de pobreza, mas também de poluição dos solos e cursos d'água, desestabilização dos terrenos e assoreamentos, além da proliferação de vetores de doenças. [...]
Os processos econômicos geradores de concentração de renda, desemprego e pobreza são formadores dessa cultura de exclusão. As massas despossuídas estão fora do mercado e, portanto, sem condições de acesso aos bens e serviços necessários à vida. São portanto sobreviventes numa sociedade onde ser pobre é como ter doença contagiosa.
A cultura da exclusão reflete-se no preconceito contra as populações faveladas. Os excluídos são vistos como marginais e violentos, bandidos do asfalto (BRETAS, 1995, p. 133).
Trata-se então da concretização de uma postura que desconhece que "os lugares não são simples 'acidentes' para o homem, mas correspondem antes ao seu ideário fundamental, e a partir deles é que se elaboram as diferentes geometrias ou topologias criadoras do espaço" (MONTEIRO, 1984, p. 24).

2 Abordagens não convencionais
A questão referente à vinculação global/local, apontada na seção anterior, pode ser transposta, obtendo-se os mesmos resultados, para a questão da análise histórica do fenômeno favela. É raro encontrar um trabalho acadêmico que aborde essa questão de maneira abrangente e exaustiva e que busque mencionar, além de sua localização e existência, suas relações com a evolução do processo de urbanização e com as lutas políticas da comunidade. Nesse panorama desolador, destacam-se, entre outros, o trabalho de Valladares (2000) sobre as favelas da cidade do Rio de Janeiro e o de Guimarães (1991) sobre as ocupações informais em Belo Horizonte.
No panorama dos estudos sobre vilas e favelas falta uma análise abrangente e exaustiva que seja capaz de interceptar, ao longo da história urbana, não somente as questões referentes à ampliação e à consolidação do processo de exclusão social, econômica e espacial dessas populações, mas também a evolução das questões de caráter geográfico, urbanístico, arquitetônico, sociológico, econômico, ideológico e cultural desses lugares.
A favela, não obstante alguns indiscutíveis avanços, continua sendo abordada por trabalhos de natureza pontual, que acabam retalhando sua história em inúmeras histórias cuja única finalidade é atender a necessidade da contextualização de inúmeros estudos de caso.
Trata-se de uma lacuna grave, sintoma e reflexo de uma maneira superficial e preconceituosamente estereotipada de operar nessas realidades, que pode e deve ser preenchida urgentemente. Essa urgência justifica-se pelo progressivo e natural desaparecimento dos registros originais desses lugares, em razão de sua própria evolução, e pela falta de uma produção acadêmica que possa servir, de um lado, para arquivar esses registros de uma vez por todas — nesse sentido, Sauer (1998, p. 20) lembra-nos que "o elemento tempo está admitidamente presente na associação dos fatos geográficos que são, por conseqüência, em grande parte não recorrentes" — e, do outro, para o reconhecimento efetivo da favela como digna de atenção frente ao restante da cidade, desvendando seu verdadeiro papel na conformação da cidade brasileira e na caracterização de suas especificidades e unicidades.
A variada realidade das cidades brasileiras traz, em seu conjunto de histórias urbanas, casos emblemáticos que resgatam as favelas enquanto espaço urbano estratégico e dinâmico de tal maneira, que suas mutações, sincrônicas e diacrônicas, são respaldas por processos de natureza e ordem complexas, via de regra ignorados em termos de causas e efeitos, a não ser quando suas manifestações mais extremas chegam a afetar a ordem pública.
Para tentar trazer um pouco de luz a respeito do estado da compreensão desse fenômeno, parte-se do pressuposto de que é necessário conhecer o conjunto das abordagens existentes, especialmente aquelas que pretendem buscar caminhos alternativos em prol do afastamento dos tão recorrentes estereótipos. Para viabilizar esse objetivo, mas sem a pretensão de ser exaustivo, pretende-se começar pela abordagem radical, a qual, como já foi dito, enxerga a favela como um espaço social e econômico, a maior parte do qual constituído fora dos circuitos formais de produção do capitalismo contemporâneo, mas ao qual sempre se remete e que por isso, a partir das especificidades do capitalismo periférico de matriz brasileira, desempenha o papel estratégico de amortecedor das instâncias capitalistas oficiais (SANTOS, 1979).
As críticas à abordagem radical já foram colocadas. Cabe entretanto lembrar que não se descarta esse tipo de visão; pelo contrário, ela é aceita, assim como também o são as que serão tratadas em seguida.

2.1 Abordagem cultural
A abordagem cultural é relativamente recente e tem o mérito de introduzir uma alternativa de estudo e análise até então deixada de lado, muito em razão do fato de que a abordagem dominante (radical) não considera como significativa a existência de uma cultura específica, tomando-a, dentro da visão marxista que a domina, como uma superestrutura, mero elemento acessório. Como contraponto, começam a aparecer estudos que investigam e demonstram claramente a existência de uma cultura nas favelas que pode e deve ser estudada, já que desempenha — e somente agora isso aparece com uma certa clareza — um papel importante e estratégico na caracterização e definição de uma cultura local específica. A cultura local é o meio através do qual se viabilizam as relações e os processos de produção do ambiente físico e que propicia as trocas bidirecionais com a cultura nacional oficial.
Segundo Berenstein (2003, p. 51), "a discussão das questões culturais e principalmente estéticas das favelas sempre foi um tabu, mesmo sabendo-se que o samba e o carnaval (e várias outras festas populares e religiosas), ícones da nossa cultura popular, se desenvolveram e têm ligação direta com esses espaços".
A ligação entre samba e favela, só para dar um exemplo, é apontada por Oliveira e Marcier (2003, p. 82), em seu trabalho sobre as favelas do Rio de Janeiro:
Paralelamente à sua configuração como espaço do pobre, a favela viria a se consagrar também como espaço do samba. Tal associação, que na verdade se faz entre samba e morro, de tão forte e recorrente na produção musical, tende a ser tomada como elemento constituinte da própria definição de favela.
A partir do trabalho desses autores, a favela caracteriza-se como um espaço produtor de um tipo de cultura veiculada principalmente pela música, mas que não se limita ao samba e ao carnaval, os quais, embora continuem se perpetuando ano após ano, evoluem através de e para novas tendências. Para evidenciar essa evolução, basta que se pense, por exemplo, no funk e no hip-hop[6], gêneros musicais que se alastram da favela para o resto da cidade e que são manifestações em linha com a evolução da sociedade brasileira contemporânea.
França e Bayeux (2002, n.p.), em um artigo de apresentação da exposição brasileira na Bienal de Veneza de 2002, cujo tema era a favela, abordam essa diversidade de identidades, afirmando que elas devem ser compreendidas para que possam ser adequadamente operadas do ponto de vista projetual:
É necessário considerar a cidade não como um todo orgânico e uniforme, mas como um conjunto de coletividades que devem ser pensadas em função de suas personalidades específicas, garantindo-lhes, assim, sua próprias identidades. Ou seja, se por um lado para o arquiteto esta diversidade significa complexidade, por outro torna-se um desafio instigante para o pleno exercício de sua atividade criadora.
A atividade criadora é um elemento que permeia esses lugares de tal maneira, que neles não se pode operar sem aderir a ela. A atividade criadora é uma postura que não é nem deve ser privilégio único do arquiteto, devendo pertencer a todo e qualquer outro profissional (geógrafo, engenheiro, sociólogo, economista, médico, pedagogo etc.) que atue ou que pretenda atuar e contribuir para a melhoria desses lugares.

2.2 Abordagem estética
A abordagem estética da favela, o terceiro tipo de abordagem, busca compreender o lugar através do estudo da imagem produzida e da paisagem que compõe junto com a cidade. Entre os poucos autores que utilizam essa abordagem destaca-se Berenstein, que reconhece a necessidade de compreender a lógica formativa e evolutiva que rege a composição para nela poder intervir:
Para intervir nesse universo espaço-temporal, em tudo diferente do resto da cidade, é imprescindível compreender um pouco melhor essa diferença. Existem algumas características básicas gerais desse processo espaço-temporal dinâmico (mais do que o próprio espaço, é a temporalidade que causa a diferença) das favelas, que são bem distintas do dispositivo tradicional de cidade formal, em grande parte projetada e construída por técnicos (BERENSTEIN, 2003, p. 53).
Ainda segundo esse autor (ibidem, p. 53), "as favelas têm uma identidade espacial própria (mesmo sendo diferentes entre si) e ao mesmo tempo fazem parte da cidade como um todo, da sua paisagem urbana". A compreensão estética da favela passaria então pela identificação de alguns elementos/gêneses desse espaço, elementos/frutos do processo, que são assim nomeados pelo autor: o "fragmento", elemento constituidor da íntima essência do processo iterativo de desenvolvimento da produção vernácula desses espaços; o "labirinto", elemento que desempenha o papel de interligar, costurar e complementar os espaços compostos de fragmentos; e o "rizoma", elemento resultado e resultante da interação com condicionantes físicos espaciais artificiais de maior inércia e que se constitui em um estádio maduro e avançado do processo de crescimento e consolidação da favela dentro da cidade.
Nessa primeira tentativa de criar categorias de análise para o entendimento das questões estéticas das favelas, o que o autor defende é a necessidade de dirigir a esses espaços um olhar que permita compreender as lógicas compositivas e os elementos básicos da sua formação. Se, por um lado, a proposta apresentada é cativante e fascinante, por outro ela peca na fase operacional, não indicando caminhos propositivos satisfatórios e limitando-se a sugerir, após a fase de análise e busca das lógicas existentes nesses espaços e dos elementos compositivos caracterizados, um tipo de intervenção baseado no conceito de "intervenção mínima".
Segundo Berenstein (2001), a intervenção mínima redimensiona o papel do arquiteto e do urbanista, tornando-o viável na medida em que
é possível ‘urbanizar’ preservando-se a alteridade das favelas, através de uma metodologia de ação (intervenção mínima), sem projeto convencional, inspirada na própria estética da favela. [...] Para se preservar o espaço-movimento [característica esta, para o autor, peculiar da favela], deve-se tentar agir sem um projeto convencional, atuando por micro intervenções, ou seja, intervenções minimais que sigam o fluxo natural e espontâneo que já existe na favela.
Trata-se de uma visão que, embora específica, tem o mérito de abrir o debate a respeito de temas e questões muito pouco trabalhadas pela academia, em boa parte devido ao tabu que ainda existe em olhar a favela através dessa perspectiva. É por essa razão que propostas desse tipo se prestam a críticas quando contrapostas a outros tipos de visão ou complementação.

2.3 Abordagem antropológica
A abordagem antropológica constitui o quarto tipo de abordagem e encontra-se ainda incipiente, apesar de suas enormes potencialidades. Através das palavras de Fonseca (2000, p. 14), um dos poucos autores que trabalham com essa abordagem, entende-se a necessidade desse tipo de estudo:
Há séculos, o discurso das classes privilegiadas sobre o comportamento dos pobres oscila entre a compaixão e a condenação indignada. Enquanto os etnólogos vão longe para encontrar povos exóticos, cujo estudo nos ensina "verdades fundamentais do homem", os costumes dos nossos pobres apenas são considerados para facilitar intervenções educativas (para "ajudar" ou "recuperar"). Em nossas favelas raramente reconhecemos uma cultura digna de interesse quando não há um distanciamento étnico (ciganos, negros etc.) ou histórico (quilombos do século XVIII). Por mais que se admita que "eles", os pobres nos seus guetos, sejam nitidamente diferentes de "nós", esta diferença é interpretada como forma degenerada ou patológica de nossa organização social, ou seja, a das classes dominantes. Para falar de povos longínquos, agilizam-se conceitos tais como "ritos agonísticos", "sociabilidades tribais" e "famílias consangüíneas". Chegando perto de casa, estes são substituídos por termos tais como "violência", "promiscuidade" e "famílias desestruturadas".
Esse tipo de abordagem tem um papel importante quando se pretende encontrar as relações existentes entre as práticas utilizadas e os espaços produzidos e identificar de que maneira os espaços são emanação de práticas culturais/antropológicas e vice-versa. Para fazer isso não será necessário começar do nada, pois existe, como nos informa Fonseca (2000, p. 217), um conjunto de estudos relativamente recentes[7], produzidos no final da década de oitenta, cujos autores "se dirigem aos bairros da periferia para estudar as dinâmicas culturais próprias desse meio: a música, os circos, os clubes de futebol, a organização familiar, as formas de participação política etc.".

2.4 Abordagem ambiental
A abordagem ambiental é a última abordagem aqui considerada como alternativa. Como foi mencionado já no início deste artigo, essa visão foi adotada para o estudo das favelas, nas últimas duas décadas, mais como efeito da universalização do uso dessa abordagem e acabou por ser manipulada e transformada de maneira a se encaixar como mais uma ferramenta de análise da abordagem radical. A abordagem ambiental, à qual se pretende remeter enquanto verdadeira abordagem alternativa para estudo, análise e compreensão da favela, tem suas raízes na visão integrada de meio ambiente proposta por Hard (1973) e Leser (1978), que funde o conceito de ecologia ao conceito de paisagem da escola geográfica alemã, dando origem ao conceito de Landschaftoekologie, "no sentido de um estudo integrado de um sistema eco-ambiental, mais amplo que o estudo da Landschaft como estudo do meio ou ambiental (Lebenraum)" (KOHLER, 2004, n.p.). Essa abordagem ainda não foi testada, mas acredita-se que possa fornecer importantes contribuições, devido à sua maneira de enxergar a favela, ou seja, como uma "porção limitada qualquer da Geosfera, ou Espaço geográfico, zona de interação da Lito-, Pedo-, Hidro-, Atmo-, Biosfera, esta última englobando a Antroposfera" (ibidem, n.p.).

3 Discutindo outra abordagem
O que foi visto até agora fornece um quadro articulado e, por isso, positivo, mostrando que existem abordagens alternativas, cada uma delas possuindo, em diferentes graus, potencialidades que ainda devem ser exploradas integralmente e encontrando-se em um estágio diverso de teste e aplicação para essas áreas.
Outro elemento positivo desse quadro é a adoção explícita de uma nova postura por parte dos pesquisadores, pautada na busca da produção de um conhecimento que se constrói cada vez mais na crítica à importação de conceitos e matrizes teóricas exógenas, sem que essas matrizes sejam testadas, adequadas, melhoradas, afinadas ou, se for o caso, descartadas. Ao mesmo tempo e cada vez com mais força, aparece o esforço pela busca e pela construção de matrizes teóricas endógenas que sejam pautadas na capacidade de compreensão desse fenômeno por parte de quem o vivencia quase que quotidianamente.
Ainda no começo da década de oitenta, Monteiro (1984) já apontava essa necessidade que somente agora está por se concretizar. Segundo ele, faz-se urgente o resgate de uma visão mais ampla e integrada de estudos geográficos que possam abranger questões antropológicas e psicológicas, devendo esse resgate partir de dentro das próprias sociedades envolvidas com essas questões:
É impossível deixar de admitir ou ignorar que, ao mesmo tempo, existem espaços "edificados" que traduzem diferentes graus de "derivações" dos ecossistemas primitivos, de onde provêm "os recursos explorados". Exploração esta que faz com que esses recursos sejam "percebidos" pelas decisões de poder, dentro de contextos "culturais" de uma realidade social. Não apenas as lentes reveladoras do econômico e do social são aquelas necessárias ao aparato ótico do geógrafo. Por que não incluir, sobretudo em benefício daquela "visão para dentro", as lentes do antropológico e do psicológico para melhor compreender a história que tem criado as diferentes geografias? (ibidem, p. 23).
Esse processo — que, segundo ele, não pode ser totalizante — busca como fim último o conhecimento e envolve um conjunto de dimensões e posturas que deveriam partir do próprio agente investigador (indivíduo) e neste encontrar justificativa, a partir de sua bagagem de experiências e de suas capacidades cognitivas e intuitivas:
O conhecimento geográfico pode produzir-se pela "experiência" pessoal, através da percepção (espontâneo), por meio da "aprendizagem" (reflexão crítica) e ajudado pela "memória" (do passado) e pela "imaginação" (para o futuro). E, nessa travessia, a "lógica" (racional) não está necessariamente desacompanhada da "fé" (paixão), sobretudo porque não se trata de um processo isolado, mas que se realiza no coletivo sociocultural (ibidem, p. 23).
Na sua proposta está implícito o reconhecimento da necessidade de alcançar uma visão que, afastando-se do perigo da especialização e conseqüentemente da parcialidade, seja abrangente, chegando a integrar todos os campos do conhecimento. Essa exigência não é casual, mas responde a uma demanda que acabou transparecendo na análise das novas abordagens, já que estas, apesar de constituírem avanços significativos, pecam por se mostrarem tímidas no que diz respeito à capacidade de se integrarem umas às outras como peças de um quebra-cabeça. A única exceção talvez seja a última abordagem apresentada, que, mesmo assim, deve ser vista com reservas, em razão de ser sua aplicação ainda muito incipiente.
Dentro do contexto apresentado, torna-se prioritária a busca de uma visão que opere de forma a integrar as abordagens vistas anteriormente, respeitando-as, garantindo suas autonomias e evitando um processo de incorporação instrumental.
A busca de Monteiro vai nesse sentido, e sua proposta aponta para a criação, como ele mesmo afirma, de "um pensamento não radical e integrativo da natureza e do homem" (MONTEIRO, 1984, p. 25). Esse pensamento busca a descoberta e a compreensão das conexões e das ordens existentes entre os fenômenos, uma tarefa que, segundo Sauer (1998, p. 17), é cientifica e "a única à qual a geografia deveria devotar suas energias".
Sauer (1998, p. 22) é o primeiro autor a encarar essa tarefa — que, segundo ele, é da própria geografia — como "o estabelecimento de um sistema crítico que envolva a fenomenologia da paisagem, de modo a captar, em todo seu significado e cor, a variada cena terrestre". Seu principal trabalho, "A morfologia da paisagem", publicado nos anos trinta do século XX, considera a paisagem como uma entidade possuidora de uma qualidade orgânica, "uma forma da terra na qual o processo de modelagem não é de modo algum imaginado como simplesmente físico" (ibidem, p. 23). Ainda segundo Sauer (1998, p. 23), e até como conseqüência do que foi dito aqui, a paisagem "pode ser, portanto, definida como uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais", inter-relacionadas dinamicamente ao longo do tempo. De acordo com o autor, as formas "constituem uma realidade como um todo, que não é expressa por uma consideração das partes componentes separadamente; a área tem forma, estrutura e função e, daí, posição em um sistema, sendo sujeita a desenvolvimento, mudanças e fim. Sem essa visão de realidade da área e de suas relações, só existem disciplinas específicas e não, a geografia como é geralmente entendida" (ibidem, p. 22). Ao longo do seu trabalho, Sauer (1998, p. 30) faz uma distinção entre paisagem natural e paisagem cultural:
A área física é o somatório de todos os recursos naturais que o homem tem a sua disposição na área. Está além da sua capacidade acrescentar qualquer coisa a esses recursos; ele pode "'desenvolvê-los", ignorá-los em parte ou explorá-los. A segunda metade da paisagem, vista como uma unidade bilateral, é sua expressão cultural. Há uma forma estritamente geográfica de se pensar a cultura, a saber, a marca da ação do homem sobre a área. Podemos pensar nas pessoas como associadas dentro e com uma área, como podemos pensar nelas como grupos associados por descendência ou tradição. No primeiro caso, estamos pensando em cultura como uma expressão geográfica, composta de formas que são uma parte de fenomenologia geográfica. Sob esse aspecto, não existe lugar para um dualismo de paisagem.
Essa distinção tem por objetivo esclarecer e definir a paisagem natural e a paisagem cultural, enfatizando a necessidade de uma postura analítica que busque entender as relações e conexões existentes entre elas:
A paisagem cultural é modelada a partir de uma paisagem natural por um grupo cultural. A cultura é o agente; a área natural é o meio; a paisagem cultural, o resultado [...] A paisagem natural é evidentemente de fundamental importância, pois ela fornece os materiais com os quais a paisagem cultural é formada. A força que modela, entretanto, está na própria cultura (SAUER, 1998, p. 59).
A compreensão da paisagem passa, segundo Sauer, pelo método morfológico, um método que, como ele reconhece, pode ser um caminho também para as ciências sociais. Para confirmar isso, o autor (ibidem, p. 33) menciona o exemplo da antropologia, ciência em que, segundo ele, esse método foi utilizado com maior sucesso:
Essa ciência pode se vangloriar de uma lista de honra de pesquisadores que tiveram a paciência e a habilidade de abordar o estudo das instituições sociais de forma fenomenológica, através de classificação das formas, desde aquelas materiais concretas, como o vestuário ou a habitação e as ferramentas, até a linguagem e os costumes de um grupo, desse modo, identificando passo a passo a complexa estrutura da cultura.
Monteiro (1984, p. 25) também reconhece que a compreensão da paisagem passa inevitavelmente pela análise da morfologia, que deve ser ampliada, concentrando-se em volta da percepção, especialmente daquela
vivida e compartilhada [que] se constrói na intersubjetividade e passa a ser o elemento "constituinte", deslocando a reflexão da consciência para o corpo. O "ESPÍRITO BRUTO" que se torna necessário redescobrir é um imperativo que advém dessa corporeidade reflexionante, que é, antes de tudo, um campo transcendental onde se fundam todos os níveis constitutivos,
chegando a incluir a análise do aspecto fenomenológico que "transparece ou transcende na intercessão das experiências individuais múltiplas, pela engrenagem de uma sobre as outras, sendo, portanto, inseparável não só na subjetividade como na intersubjetividade (do indivíduo à sociedade)".
A abordagem apresentada por Sauer e Monteiro para a análise da paisagem, baseada no estudo da morfologia em seu sentido mais abrangente, pode ser usada para a análise da favela. Entretanto, como os autores não abordam as questões relativas à sua operabilidade, faz-se necessário perguntar: quais seriam os instrumentos alternativos e novos que esse tipo de abordagem oferece para que seja possível encontrar caminhos que, para além da compreensão, possam promover diretrizes e propostas coerentes de intervenção nas vilas e favelas?

4 Abordagem fenomenológica de Malard
O primeiro autor a articular uma resposta coerente para esse tipo de questão foi Malard (1992, 2001, 2002). Valendo-se de um enfoque baseado em conceitos à primeira vista eminentemente arquitetônicos, ele conseguiu desenvolver uma aplicabilidade que vai além das questões habitacionais. Essa avaliação é feita por Souza (1998), que testou a dimensão urbanística da teoria de Malard, aplicando-a a uma rua do bairro Santa Teresa, em Belo Horizonte. Os resultados apresentados por Souza confirmam sua validade, abrindo a possibilidade de ela ser validada e aplicada para o estudo e a análise da favela. Não existem ainda exemplos de aplicação dessa metodologia para essas áreas, mas espera-se que isso seja feito logo. Parece evidente, entretanto, que a teoria de Malard possa chegar, de fato, a definir diretrizes e caminhos que possam promover processos e propostas coerentes de intervenção para uma melhoria que seja efetiva, isto é, condizente com o lugar e seus habitantes.
Para desenvolver sua teoria, Malard parte das características fundamentais do morar apresentadas por Korosec-Serfaty (1960) e que se resumem em três relações:
• estabelecimento de um interior/exterior;
• estabelecimento de visibilidade;
• apropriação.
As três característica apontadas por Korosec-Serfaty podem ser inscritas, segundo Malard et al. (2002, p. 36), em quatro conceitos que, sendo os pontos cardeais de sua proposta, compõem a experiência do morar, ou seja, aquela de "usufruir a privacidade de um território delimitado fisicamente, caracterizado socialmente e qualificado ambientalmente". Esses conceitos são territorialidade, privacidade, identidade e ambiência[8], e neles se encontram, integradas, todas as abordagens vistas anteriormente, definidas como "abordagens não convencionais". Cada uma delas encontra seu lugar em um ou mais conceitos, resultando estes últimos exaustivos no que diz respeito à capacidade de leitura e entendimento do espaço construído.
Com os conceitos definidos por Malard et al. (2002, p. 26), os quais "se constituem nas dimensões fenomenológicas do habitar", Souza (1998, p.52) consegue simultaneamente integrar as abordagens existentes e conceituar a habitabilidade "através de dimensões existenciais que devem ser compreendidas como dimensões dadas a partir da totalidade do homem no espaço" ou, como ele mesmo indica, "a partir dos eventos, que são as atividades humanas que implicam em interações com as coisas ou com outras pessoas".
A justificativa para a escolha desse método é dada pelo fato de ser ele "um modo aparentemente mais abrangente e profundo para tratar a complexidade do conceito de habitar, uma vez que considera o homem e seu meio como uma totalidade" (SOUZA, 1998, p. 50). Nessa afirmação de Souza, estão implícitas muitas das considerações feitas por Sauer e Monteiro. O mesmo autor, citando Gomez[9], indica como a abordagem fenomenológica pretende recuperar a dimensão existencial em todas as áreas do saber, salientando que o enfoque fenomenológico na teoria de Malard "é uma tentativa de fazer a convergência das contribuições de diversas áreas do saber para o campo da arquitetura, uma vez que se consideram todas elas, o que, através da fenomenologia, resgata a dimensão da existência humana, indaga sua finalidade e dá sentido ao fazer do homem" (SOUZA, 1998, p. 52).
Através das palavras de Souza (1998, p. 53), compreende-se como a proposta de Malard pode ser aplicada em diversas escalas, sem com isso perder sua efetividade: "a identidade e o valor da casa só podem ser compreendidos quando a casa é tornada pública, quando é considerada uma casa em uma rua. A rua é assim concreção do espaço existencial, no qual o sentido é o da casa que se apresenta ao público e onde o que é público realiza a autenticidade da presença da casa". A efetividade da proposta está, além de na abordagem fenomenológica integral e ampliada, na operacionalidade do chamado "conflito arquitetônico" e na sua aplicabilidade em uma variedade de âmbitos e escalas através das análises espaciais, possibilitando o desenvolvimento de intervenções propostas pelas próprias comunidades.
O conceito de conflito arquitetônico tem suas raízes em Heiddeger (1962), o qual define a essência de um objeto: se for criado para desempenhar uma determinada função, o objeto será ready-to-hand; caso contrário, será unready-to-hand. Segundo Malard et al. (2002, p. 38), "todas as situações causadas por 'unreadness-to-hand' são conflitos que revelam a própria essência do elemento que falhou, permitindo-nos capturar essa essência teoricamente, ao observar e analisar o conflito".
O conflito pode ser encontrado tanto na edificação em si, quanto no espaço público e dentro do conjunto dos espaços construídos. Os conceitos de territorialidade, privacidade, identidade e ambiência podem ser aplicados da mesma maneira nesse conjunto de escalas e âmbitos, sem perder seu sentido. Como afirmam Malard et al. (2002, p. 38), os espaços arquitetônicos em todos os seus componentes — entendendo-se com isso aqueles espaços produzidos pelo homem — "são sempre lugares significativos porque são especializações da práxis social e, assim sendo, eles revelam muitas pistas sobre comportamento e relações sociais. Essas pistas são reveladas através dos conflitos que surgem nas interações entre moradores e moradias".
A abordagem de Malard inclui alguns aspectos que, tendo sido pouco discutidos até agora, precisam ser colocados para consubstanciar as razões que determinaram sua escolha como aquela que permite compreender a complexidade da favela na multiplicidade de seus aspectos e dimensões e resgatar uma ação coerente com a natureza desse espaço.
As questões ligadas ao habitar tratadas nas análises espaciais através do conflito arquitetônico determinam o local como dimensão natural para essa abordagem, excluindo, dessa maneira, a dimensão do global como ponto de partida. A abordagem não exclui, a princípio, a dimensão do global como uma das dimensões da intervenção, mas mostra como esta pode ser inoperante, além de equivocada e prejudicial, se tomada a priori como condição operativa incondicional.
Dessa maneira, a abordagem de Malard vira às avessas a visão crítica convencional que, como foi visto no começo deste trabalho, postula a necessidade de pressupostos ideológicos de caráter universal como condição inicial para qualquer tipo de atuação.
As atuações decorrentes da aplicação da abordagem de Malard buscam e encontram seus conteúdos na dimensão local na medida em que o lugar e seus componentes são desvendados, tornando-se legíveis e transformando-se em conhecimento. A força dessa abordagem está na apropriação, em termos operativos, desses conteúdos específicos oriundos do próprio lugar, que se caracterizam como conteúdos estruturadores, representando as chaves para pautar:
• trocas bilaterais entre observadores e observados;
• discursos de atuação pragmáticos baseados nas reais exigências e necessidades;
• propostas baseadas nos recursos existentes no lugar;
• propostas sistêmicas e integradas de intervenção.
A viabilidade do que foi dito até agora passa pela necessidade de criar processos de investigação e atuação que partam das comunidades e que sejam geridos por elas, sob pena de invalidar e esvaziar a proposta do conteúdo supracitado. No contexto atual, trata-se da necessidade de ter um genuíno processo de autogestão pautado na inter-relação entre agente local (comunidade) e agentes parceiros (sociedade civil). Esse processo é, a nosso ver, o motor que vai tornar operativa uma abordagem como essa.
O acréscimo do adjetivo "genuíno" ao termo autogestão não é casual: visa a distinguir uma autogestão de fato, onde existem autonomia e controle total do agente comunitário, de uma autogestão fictícia, a mais presente hoje em dia, que é via de regra fomentada e conseqüentemente desvirtualizada por um poder público que não tem ainda, e talvez nunca terá, a capacidade de delegar às comunidades a organização e o controle de si mesmas. Isso confirma que se trata de um paradoxo falar de autogestão fomentada pelo poder público.
Dimensão local, conhecimento local como fonte de conteúdos, autogestão e visão sistêmica integrada constituem aspectos ainda hoje não abordados como conseqüências operativas da abordagem de Malard.
Achamos, entretanto, que existe uma segunda dimensão, sucessiva à implantação das práticas oriundas dessa abordagem e resultado da multiplicação das intervenções. Trata-se da dimensão global requalificada, resultado — e não, pressuposto — do conhecimento pautado no local. Com ela poder-se-ia reverter a proposta convencional crítica e radical, definindo-se políticas específicas predominantemente — mas não exclusivamente — sociais, a partir da dimensão local e sem a intromissão do agente público, que teria seu papel redefinido. O poder público seria finalmente destituído de seu atual papel primário para se tornar mais um entre os agentes existentes na sociedade civil.
Como último mas não menos importante aspecto, vale dizer que a proposta busca uma integração social entre as bases da sociedade atual e os setores interessados — em geral, as organizações da classe média — em se envolver nesse processo (entre estes cabe destacar aqueles que mais poderiam contribuir para sua viabilização: as universidades, as associações de profissionais, as associações beneficentes, as associações religiosas e as próprias Igrejas, as empresas etc.).

5 Conclusões
A crítica à abordagem radical oficial permitiu-nos ter uma visão das outras abordagens utilizadas para a compreensão da favela, buscando entender as potencialidades de cada uma delas em termos de análise e de aplicação na melhoria desse lugar.
Em termos gerais, a maioria das abordagens existentes traça direções, alternativas e possibilidades de investigação ainda não exploradas, permanecendo, por isso, com uma capacidade de síntese e abrangência aquém da tão criticada abordagem radical.
Conclui-se que a alternativa capaz de substituir a abordagem radical, sem contudo perder sua aplicabilidade em um conjunto variado de escalas e contextos, seja a abordagem fenomenológica proposta por Malard, a qual não exclui as outras abordagens mas, pelo contrário, chega a se caracterizar como o âmbito no qual estas podem encontrar pontos em comum e finalmente se integrar dentro de um marco potencializado pelas contribuições teóricas que viabilizam, além de sua compreensão, sua aplicabilidade para a solução dos problemas do dia-a-dia e para a melhoria desses lugares.

Referências bibliográfica

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Notas

[1] Professor do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas; Pesquisador do Observatório das Metrópoles – Núcleo Minas Gerais; Doutorando da Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial, PUC-Minas.
[2] Esses processos que atingem os âmbitos social, político, econômico, cultural e ideológico são: a redemocratização do país, a abertura econômica, o processo de globalização, a descentralização administrativa e das políticas públicas, a estabilidade econômica, os novos objetivos e as novas políticas das instituições financiadoras da cooperação internacional.
[3] Lembramos que a maioria dos países da África e em parte da Ásia, ao contrário do que aconteceu na América Latina, alcançaram sua independência somente nas últimas décadas da primeira metade do século XX.
[4] Sugere-se a ampliação das instâncias de conhecimento e estudo, através do envolvimento da própria população como agente conhecedor e investigador de si mesmo.
[5] Existe atualmente uma certa esperança de que essa instância abrangente seja incorporada pelo recém criado Ministério das Cidades.
[6] Para um aprofundamento sobre tal fenômeno, sugere-se a leitura de HERSCHMANN, M. O funk e o hip-hop invadem a cena. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
[7] Como exemplos desses estudos, a autora cita: ZALUAR, Alba. A máquina e a revolta: as organizações populares e o significado da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 1985; MAGNANI, Guilherme Cantor. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São Paulo: Brasiliense, 1984; DUARTE, Luiz Fernando. Da vida nervosa das classes trabalhadoras urbanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1986; CALDEIRA, Tereza. A política dos outros: o cotidiano dos moradores da periferia e o que pensam do poder e dos poderosos. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1984.
[8] Para aprofundamento das características, das origens e das contribuições teóricas para a definição desses conceitos, sugere-se a leitura de MALARD (1992) e SOUZA (1998).
[9] GOMEZ, A. P. La gênesis y superación del funcionalismo em arquitectura. México: Editorial Limusa, 1980.









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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Espaços Colaterais




Amigos, Alexandre Campos, Carlos M. Teixeiras, Renata Marquez e Wellington Cançado organizaram o livro "Espaços Colaterais" que reune as apresentações e discussões que integraram o projeto CICLO1 realizado nos anos de 2004/05.


Porque Cidade e porque Arquitetura?


Carta para um amigo (segunda parte)

Oi XXX,
obrigado pelo e-mail e pela sua atenção, lamento ter saído, mas a sensação não foi de desaponto, mas de desnorteamento, pois acho que se uma questão, que para mim, era importante e acabou ficando à margem da conversa, me induz a pensar que isso seja em razão de seu valor ser relativo e subjetivo, tornando-se importante para mim e não para os outros.
Devo admitir, entretanto, que boa parte, responsabilidade por isso, é minha, por não ter falado quando podia.
Confesso-te que não falei porque certos ambientes me inibem, não tenho muita destreza ou facilidade em falar e tenho sempre medo que o meu raciocínio não fique redondo, e isso normalmente acontece justamente em razão de uma minha certa timidez. Prefiro delongar os momentos de reflexão que são mais, muito mais longos daqueles de Augustin, o qual se atribui uma lentidão no processamento das informações que comparada com a minha se aproxima da velocidade da luz.
Bom este “mea culpa” é devido e, trata-se da segunda vez hoje, pois em conversa com a Leta, a respeito do evento o já tinha feito.
Gostei muito da publicação e antes mesmo de poder ter acesso a ela tinha certeza da sua qualidade, e, ao longo da conversa, lembrei que há poucos dias escrevi uma carta para meu time de rugby com um título que poderia se ajustar muito bem à situação atual dos projetos que estão tão bem ilustrados no seu livro. O titulo que usei foi “o vento, a morte e a colheita” e referia-se ás impressões que tive do primeiro jogo do meu time de rugby no máximo campeonato nacional. Perdemos 64 a 10, dominamos no começo, mas fomos superados pela força do adversário advinda de anos e anos de experiências e militância. Porque o vento então, porque corremos rápidos como ele por um momento marcamos nossos pontos, mas não foi suficiente, nosso adversário rebateu logo e repetidamente. Perdemos. Morremos de fato, mas cientes de que aquele vento do começo mostra que um caminho foi traçado e que não se pode perder e que deve continuar para gerar um futuro no qual podaremos, e aqui vem a colheita, colher finalmente os frutos dos esforços. Assim vejo estes projetos, como o vento que tomou conta um dia mas que não foi suficiente porque nosso adversário é mais forte. Acho, entretanto, que os esforços feitos não podem ser em vão. Devem serem sistematizados, e aqui acho que a publicação tem seu sentido mais profundo e tem que ser revistos e re-processados á luz desta situação de morte, pois acho que estamos nessa situação ou muito próximos disso e precisamos encontrar um caminho para sairmos dela.
O pensamento crítico continua existindo apesar de ele ter se enfraquecido, continuando talvez em alguns ambientes que, porém, históricamente, mesmo hospedando e desenvolvendo a crítica são poucos atuantes.
Para saber onde vai o arquiteto acho que tem que definir e saber de onde ele vem e se queremos mudar o que ele faz devemos mudar a maneira de formar este arquiteto. O pensamento é banal, obvio, mas acho que ainda é de fundamental importância o ambiente universitário para conduzirmos uma ação de longo alcance. Que parta dele, se desenvolva nele e continui além dele em continua sinergia, junto com os alunos da graduação, da pósgraduação e dos egressos (e aí que podemos chegar no tal do mercado...)
Acho que perdemos o foco, perdemos consciências das estratégias, que são cada vez menos consistentes. Perdemos cada vez mais o domínio dos meios que por conseqüências se tornam cada vez menos, e me refiro a lugares prontos para experimentar o novo e onde se queira de fato sair do lugar protegido e seguro, para nós colocarmos em discussão como arquitetos urbanistas e como homens e mulheres dessa nossa sociedade brasileira contemporânea.
E me refiro também a situações diferentes a serem construídas. Falou-se muito hoje do arquiteto, me interessa enxergar e saber “dos arquitetos”, pois precisamos procurar sinergias e não trabalhar na individualidade. O adversário é organizado e forte se não nós organizarmos seremos inúteis Dom Quixotes que lutando contra os muinhos ventos carregam uma visão distorcida da realidade ou pior, uma utopia. Mas aqui está, nos não podemos serem ingênuos de pensar de estarem trabalhando uma utopia porque propondo esta linha de pensamento estaremos fazendo o jogo do nosso adversário. O que queremos existe e pode ser atingido e alcançado, está ali a um passo de nós, atrás de uma esquina, no morro que vemos das nossas janelas. O que nós falta? Acho que devemos lançar pontes, quanto mais melhor. E come fazer isso? A respeito destas questões tenho algumas teorias, quem sabe que não podemos discuti-las em um outro momento?
E quem sabe que não pode-ser um dia desse? pois quero muito entrar em posse de um volume e se poder, ter mais para distribuí-los.
Um grande abraço.
Alfio

Carta para um amigo (primeira parte)

Caro XXX,
obrigado pelo e-mail e meus parabéns pelo trabalho, confirmo minha presença para o próximo sábado na esperança de podermos ter um tempo para conversar um pouco, aproveito entretanto este e-mail para fazer algumas ponderações que assolam meus pensamentos assim como o pensamento dos meus colegas aqui. Estes pensamentos estão ligados ao ambiente institucional atual cada vez mais refratário a propostas que exijam um comprometimento de fato da instituição com as questões ligadas à sociedade e à exclusão urbana. Este comprometimento, que pode-se traduzir em “extensão”, está cada vez mais se tornando um discurso e cada vez menos uma prática. Com isso não quero dizer que exista uma regressão a partir de uma posição de atuação de fato, mas que as questões e, mais ainda, as tentativas feitas para quebrar esta barreira invisível que separa a instituição da sociedade, estão cada vez mais sendo cerceadas, limitadas e sabotadas.As várias e vãs tentativas de se contrapor a este processo acabam desperdiçando energias que em momentos anteriores foram utilizadas para a critica e a proposição chegando à oportunidade concreta da atuação. Esta ultima, inclusive, sempre foi objeto de critica construtiva por parte de quem conhecia a nossa experiencia e isso com toda razão pois nos investimos muito tempo na analise, na conceituação e na proposição. Chegamos em 2006 a ter uma perspectiva executiva em várias frentes que, uma vez que a instituição despertou, e viu o que estava sendo proposto e feito, foram sistematicamente cortadas alegando estatutos e vocações institucionais que não colima com quanto estava sendo proposto por nós. Ando me perguntando se não for nessas instituições onde mais isso é possível, e se este mundo institucional deva ser dividido e recortado em instituições que podem se permitir isso e instituições cujo principal objetivo é aquele econômico atendo-se por isso à formação (qual? e como?) dos profissionais tornando-se montadoras de diplomas. Você assim como nossos amigos passaram por um processo desse tipo e assim como eu e meus amigos aqui, vocês experimentaram isso na carne. Acredito que existam outros caminhos com dimensão teórico-prática e formativa, se não, dentro destas instituições, certamente às margens dela e para além delas. Pessoalmente não pretendo abandonar a instituição, mas também não pretendo abandonar meus ideais e minha visão de mundo que passa pela busca de alternativas, em grande parte alheias às logicas de mercado, pois onde pretendemos atuar o mercado em si ainda não existe ou não tem o formato com o qual estamos costumados a trabalhar.Acredito também na possibilidade da união dos esforços de quem já tentou trabalhar estas questões dentro das instituições para levá-las a frente dentro de um novo contexto buscando outras dinâmicas e estruturas pautadas no compartilhamento e na democracia.Gostaria saber o que você acha disso tudo e se existe algum movimento para começar a fazer frente a este estado das coisas.Um grande abraço e até sábado.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Escritório de Integração no INOVATEC




Amigos o Prof. João Francisco de Abreu convidou o EI a apresentar um banner no Inovatech que começará no Expominas Gameleira a partir da próxima segunda-feira, contendo estudos tecnológicos para dispositivos de mesoestruturas. Este convite é parte do resultado da palestra à qual o professor assistuiu na quinta-feira da semana passada, em Inhotim, dentro das atividades previstas na Summer School 2008.
A imagem do Banner que será exposto encontra-se ao lado.
Abraços.
Alfio

Nasceu

Amigos finalmente um lugar, ainda que tardio, para trocarmos ideias, propósitos e muito material. Vamos começar, são 20:00 horas do dia 25 de setembro de 2008.
Alfio