sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Carta para um amigo (segunda parte)

Oi XXX,
obrigado pelo e-mail e pela sua atenção, lamento ter saído, mas a sensação não foi de desaponto, mas de desnorteamento, pois acho que se uma questão, que para mim, era importante e acabou ficando à margem da conversa, me induz a pensar que isso seja em razão de seu valor ser relativo e subjetivo, tornando-se importante para mim e não para os outros.
Devo admitir, entretanto, que boa parte, responsabilidade por isso, é minha, por não ter falado quando podia.
Confesso-te que não falei porque certos ambientes me inibem, não tenho muita destreza ou facilidade em falar e tenho sempre medo que o meu raciocínio não fique redondo, e isso normalmente acontece justamente em razão de uma minha certa timidez. Prefiro delongar os momentos de reflexão que são mais, muito mais longos daqueles de Augustin, o qual se atribui uma lentidão no processamento das informações que comparada com a minha se aproxima da velocidade da luz.
Bom este “mea culpa” é devido e, trata-se da segunda vez hoje, pois em conversa com a Leta, a respeito do evento o já tinha feito.
Gostei muito da publicação e antes mesmo de poder ter acesso a ela tinha certeza da sua qualidade, e, ao longo da conversa, lembrei que há poucos dias escrevi uma carta para meu time de rugby com um título que poderia se ajustar muito bem à situação atual dos projetos que estão tão bem ilustrados no seu livro. O titulo que usei foi “o vento, a morte e a colheita” e referia-se ás impressões que tive do primeiro jogo do meu time de rugby no máximo campeonato nacional. Perdemos 64 a 10, dominamos no começo, mas fomos superados pela força do adversário advinda de anos e anos de experiências e militância. Porque o vento então, porque corremos rápidos como ele por um momento marcamos nossos pontos, mas não foi suficiente, nosso adversário rebateu logo e repetidamente. Perdemos. Morremos de fato, mas cientes de que aquele vento do começo mostra que um caminho foi traçado e que não se pode perder e que deve continuar para gerar um futuro no qual podaremos, e aqui vem a colheita, colher finalmente os frutos dos esforços. Assim vejo estes projetos, como o vento que tomou conta um dia mas que não foi suficiente porque nosso adversário é mais forte. Acho, entretanto, que os esforços feitos não podem ser em vão. Devem serem sistematizados, e aqui acho que a publicação tem seu sentido mais profundo e tem que ser revistos e re-processados á luz desta situação de morte, pois acho que estamos nessa situação ou muito próximos disso e precisamos encontrar um caminho para sairmos dela.
O pensamento crítico continua existindo apesar de ele ter se enfraquecido, continuando talvez em alguns ambientes que, porém, históricamente, mesmo hospedando e desenvolvendo a crítica são poucos atuantes.
Para saber onde vai o arquiteto acho que tem que definir e saber de onde ele vem e se queremos mudar o que ele faz devemos mudar a maneira de formar este arquiteto. O pensamento é banal, obvio, mas acho que ainda é de fundamental importância o ambiente universitário para conduzirmos uma ação de longo alcance. Que parta dele, se desenvolva nele e continui além dele em continua sinergia, junto com os alunos da graduação, da pósgraduação e dos egressos (e aí que podemos chegar no tal do mercado...)
Acho que perdemos o foco, perdemos consciências das estratégias, que são cada vez menos consistentes. Perdemos cada vez mais o domínio dos meios que por conseqüências se tornam cada vez menos, e me refiro a lugares prontos para experimentar o novo e onde se queira de fato sair do lugar protegido e seguro, para nós colocarmos em discussão como arquitetos urbanistas e como homens e mulheres dessa nossa sociedade brasileira contemporânea.
E me refiro também a situações diferentes a serem construídas. Falou-se muito hoje do arquiteto, me interessa enxergar e saber “dos arquitetos”, pois precisamos procurar sinergias e não trabalhar na individualidade. O adversário é organizado e forte se não nós organizarmos seremos inúteis Dom Quixotes que lutando contra os muinhos ventos carregam uma visão distorcida da realidade ou pior, uma utopia. Mas aqui está, nos não podemos serem ingênuos de pensar de estarem trabalhando uma utopia porque propondo esta linha de pensamento estaremos fazendo o jogo do nosso adversário. O que queremos existe e pode ser atingido e alcançado, está ali a um passo de nós, atrás de uma esquina, no morro que vemos das nossas janelas. O que nós falta? Acho que devemos lançar pontes, quanto mais melhor. E come fazer isso? A respeito destas questões tenho algumas teorias, quem sabe que não podemos discuti-las em um outro momento?
E quem sabe que não pode-ser um dia desse? pois quero muito entrar em posse de um volume e se poder, ter mais para distribuí-los.
Um grande abraço.
Alfio

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