sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Carta para um amigo (primeira parte)

Caro XXX,
obrigado pelo e-mail e meus parabéns pelo trabalho, confirmo minha presença para o próximo sábado na esperança de podermos ter um tempo para conversar um pouco, aproveito entretanto este e-mail para fazer algumas ponderações que assolam meus pensamentos assim como o pensamento dos meus colegas aqui. Estes pensamentos estão ligados ao ambiente institucional atual cada vez mais refratário a propostas que exijam um comprometimento de fato da instituição com as questões ligadas à sociedade e à exclusão urbana. Este comprometimento, que pode-se traduzir em “extensão”, está cada vez mais se tornando um discurso e cada vez menos uma prática. Com isso não quero dizer que exista uma regressão a partir de uma posição de atuação de fato, mas que as questões e, mais ainda, as tentativas feitas para quebrar esta barreira invisível que separa a instituição da sociedade, estão cada vez mais sendo cerceadas, limitadas e sabotadas.As várias e vãs tentativas de se contrapor a este processo acabam desperdiçando energias que em momentos anteriores foram utilizadas para a critica e a proposição chegando à oportunidade concreta da atuação. Esta ultima, inclusive, sempre foi objeto de critica construtiva por parte de quem conhecia a nossa experiencia e isso com toda razão pois nos investimos muito tempo na analise, na conceituação e na proposição. Chegamos em 2006 a ter uma perspectiva executiva em várias frentes que, uma vez que a instituição despertou, e viu o que estava sendo proposto e feito, foram sistematicamente cortadas alegando estatutos e vocações institucionais que não colima com quanto estava sendo proposto por nós. Ando me perguntando se não for nessas instituições onde mais isso é possível, e se este mundo institucional deva ser dividido e recortado em instituições que podem se permitir isso e instituições cujo principal objetivo é aquele econômico atendo-se por isso à formação (qual? e como?) dos profissionais tornando-se montadoras de diplomas. Você assim como nossos amigos passaram por um processo desse tipo e assim como eu e meus amigos aqui, vocês experimentaram isso na carne. Acredito que existam outros caminhos com dimensão teórico-prática e formativa, se não, dentro destas instituições, certamente às margens dela e para além delas. Pessoalmente não pretendo abandonar a instituição, mas também não pretendo abandonar meus ideais e minha visão de mundo que passa pela busca de alternativas, em grande parte alheias às logicas de mercado, pois onde pretendemos atuar o mercado em si ainda não existe ou não tem o formato com o qual estamos costumados a trabalhar.Acredito também na possibilidade da união dos esforços de quem já tentou trabalhar estas questões dentro das instituições para levá-las a frente dentro de um novo contexto buscando outras dinâmicas e estruturas pautadas no compartilhamento e na democracia.Gostaria saber o que você acha disso tudo e se existe algum movimento para começar a fazer frente a este estado das coisas.Um grande abraço e até sábado.

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