sábado, 27 de dezembro de 2008

BH tem sobrecarga em galerias de drenagem pluvial

Foi o que constatou a prefeitura de Belo Horizonte quando criou, em 1997, uma portaria que estabelece padrões de revestimento para áreas permeáveis, dotadas de vegetação. A portaria veio normatizar a lei 7166, de 1996, sobre taxas de permeabilização mínimas para construções urbanas, e cadastrou os revestimentos.

Os Governos, desde sempre, entendem que a melhor solução para aplacar a fúria de enchentes que ano após ano provocam prejuízos materiais e mortes é apostar na canalização de cursos d´água, favorecendo a rápida evacuação hídrica. É um engano.

Em 2004, ocorreu em Belo Horizonte o congresso Desenvolvimento urbano sustentável e gestão ambiental. José Roberto Borges Champs, então coordenador do DRENURBS e participante da mesa Gestão das cidades e drenagem urbana: a questão da canalização de rios e córregos, afirmou que o Poder Público, até 2004, investiu cerca de um bilhão de dólares em canalizações e hoje ainda vivemos os riscos de enchentes

No mesmo congresso, de acordo com Sadalla Domingos, professor da USP, as calamidades públicas provocadas por enchentes tornam-se, muitas vezes, avenidas para a corrupção no Brasil. Para o professor, as inundações vêm, e em nome de uma grande urgência para se evitar danos maiores, empresas são contratadas para resolver problemas que não podem ser solucionados pelos métodos aplicados por elas. "Criamos uma indústria de obras caras, corretivas e sem projetos". O custo para a criação de pisos permeáveis, bem como a manutenção deles é baixo e mais eficiente. Além de ser simples.

Para os participantes do congresso, possibilitando de maneira efetiva e ampla a permeabilização so solo, ocorrerá prevenção das enchentes, redução das ilhas de calor, recarga dos aqüíferos subterrâneos, manutenção das vazões dos cursos d'água nas épocas de seca e economiza-se com obras de manutenção no sistema de condução e captação das águas pluviais, pois menos água escoará pelo sistema.

Outro fato preocupante, é que em 2001 a Prefeitura de Belo Horizonte constatou que todos os cursos d´água belo-horizontinos estavam contaminados por esgoto

Mas infelizmente, de 1997 para 2008, pouca coisa ou nada mudou.

Proprietários de edifícios ou de grandes empreendimentos quando recebem o "habite-se", ilegalmente pavimentam convencionalmente as áreas destinadas à permeabilização do solo; arrancaram várias árvores e gramas para viabilizar as obras viárias "Linha Verde" e "Antônio Carlos"...

E ano após ano discutiremos as enchentes e tudo mais. Afinal de contas, água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"Um terço dos municípios brasileiros têm favelas, revela IBGE"


Pausa complicada. Mas vamos lá.

Como noticia a Folha de São Paulo do dia 12/12/2008, "um terço dos municípios brasileiros têm favelas, palafitas e outras habitações miseráveis. Em mais da metade deles, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registrou ainda a presença de loteamentos irregulares ou clandestinos. As políticas públicas de habitação são preocupação constante de 80,2% dos municípios, segundo a pesquisa. Este percentual disse desenvolver algum programa da área neste ano. No Sudeste, o percentual é de 70,6%, número considerado baixo pelo IBGE, já que se trata de uma região 'dotada de grandes centros urbanos e de notável déficit habitacional'. A maior parte dessas políticas, segundo a pesquisa, é de programas voltados para a construção de unidades habitacionais."

Segundo a mesma pesquisa, o Brasil possui aproximadamente 16.500 favelas. E até 2016 a população das favelas poderá triplicar.

Comentando o negrito, pergunto: quais critérios que os governos decidiram como prioridade construir unidades habitacionais, aonde e como? Por exemplo, pretende-se retirar as pessoas do lugar? Quais serão os beneficiados? Como impedir que as pessoas construam em áreas de risco? Enquanto não resolve o problema de todos, os governos estuda a questão ambiental das favelas: chuvas, enchentes, desabamentos, infiltração das águas no solo...? Como podemos contribuir?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Déjà vu

Suspendi, somente hoje, a pausa, mas é importante partilhar essa notícia.

Todos os anos essas notícias são recorrentes.

E o que o Poder Público tem faito para evitar as enchentes? Você conhece alguma rua com grama no passeio ou paralelepípedos nas vagas de estacionamento? A maioria das ruas são asfaltadas de fora a fora.

E nós? Sim, nós também somos responsáveis. Aposto que você já impermeabilizou seu jardim ou apoiou o síndico do seu prédio na substituição do piso intertravado por cimento.

Jardins em casas, hortas, paralelepípedos, gramas, pisos intertravados, árvores... são medidas simples e eficazes que ajudariam a evitar ou a amenizar essas tragédias e o dinheiro público seria utilizado em outras demandas - segurança, educação, saúde, etc. - que não para reconstruir ruas, bairros, cidades.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A TERRA QUE RECEBEMOS

Recebi esse texto do professor Edézio e compartilho com vocês:

"Diz-se que a natureza é sábia. Não sei por quê. Dizem-no porque fez o que esperávamos e porque fez o que não esperávamos (e estávamos errados em nossas expectativas). Para fazer o Grand Canyon, ela não precisou estar com raiva, como não estava quando em tempos até pré-cabralinos rasgou voçorocas no Brasil, destampou cabeços rochosos, levando o solo que o processo geológico pede tempo para refazer — alguns milhões de anos. Tudo ela tem feito aproveitando nossa contribuição como espécie biológica, intuitiva; ou tecnogênica, legífera. A ação intuitiva dos primórdios não diferia da de hipopótamos e leões, ora ajudando a natureza a conformar a terra ora atrapalhando um pouco, nada que a ciclicidade climática não pudesse corrigir. Nas voçorocas de Cachoeira do Campo, por exemplo (e repito Cachoeira no propósito de lá ver voçorocas reabilitadas pelo povo, ajudado por governos; não por eles atrapalhado). O Homem erra, como errou lá e numa parte do Brasil maior que a Bolívia, só na erosão senso lato, incluindo voçorocas, deslizamentos e a raspagem feita pelo casco do boi, ininterrupta, sinistra, nas ladeiras do Paraibuna, Doce e Mucuri. O povo quer corrigir, mas qual o cenário? O cenário é de governos que atrapalham, embora nem destes eu possa acusar espírito destrutivo.

Exemplos de como governos atrapalham? Uma infinidade. Pensemos num às nossas portas. Belo Horizonte é montanhosa. Como qualquer cidade, produz resíduos, que um dia espero serem extintos pela reciclagem total. Os volumes são imensos. Então, onde os coloco, em território montanhoso, lembrando que resíduos não pagam passagem? O mais próximo possível, lógica natural, agora reforçada pelo efeito estufa, que seria ampliado pela queima de combustível no trânsito das pesadas caçambas. Segundo passo, no fundo do vale, meia-encosta ou alto da serra? Obviamente no fundo do vale. Onde está a maior parte ou parte substancial dos resíduos inertes em Belo Horizonte? Na meia-encosta, lá jogados, não tecnicamente dispostos, por falta de consciência ou de opção.

Agora, declaração que faço sem pretensão de alarmar: Se tivesse chovido aqui a metade do que choveu em Santa Catarina grande parte dos resíduos dispensados e ora escondidos na meia-encosta de Belo Horizonte, teria deslizado para os fundos do vale, onde deveriam ter sido postos desde o início, levando casas construídas sobre eles, casas em risco de posição abaixo deles e possivelmente até edifícios maiores. Recebemos uma terra indiferente a nós. Cabe a nós melhorá-la, e nós a pioramos. Nas cidades montanhosas os aterros de resíduos devem se feitos nos fundos dos vales, para estabilizar a baixa encosta, purificar a água, perenizar nascentes, reduzir inundações e remover insalubridades típicas dos brejos. Reurbanizemos os fundos dos vales, enquanto é tempo. No plano mais geral do território a lei precisa restituir a liberdade de ação de quem conhece."

Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo

Fonte: Jornal "O Tempo" - 12/12/08

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Como planejar melhor as cidades para evitar tragédias?

Aproveitando o embalo da visita do arquiteto urbanista indiano Charles Corrêa, vale a pena dar uma olhada no vídeo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Planejamento Urbano de Belo Horizonte

O artigo abaixo, publicado no jornal Estado de Minas de hoje, fala sobre o planejamento urbano de Belo Horizonte. Segundo o texto e a reportagem, a legislação urbana da capital mineira precisa ser revista e atualizada com urgência.

Não só tendo em vista a verticalização do Buritis, mas do vetor sul como um todo. Além, é claro, de outras ocupações legais ou não, principalmente as questões das favelas, das ocupações irregulares de imóveis e dos prédios desocupados e ociosos.

Como o artigo fala, a administração pública atua no solo de Belo Horizonte independente de aprovação ou não das leis.

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Planejamento urbano precisa amadurecer
Geraldo Magela Costa*

Aprovados em 1996, o Plano Diretor e a Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo (LPOUS) de Belo Horizonte foram revistos em 2000, a partir dos resultados da primeira Conferência Municipal de Política Urbana realizada entre fins de 1998 e início de 1999. Uma segunda conferência ocorreu em 2001 e 2002, com o mesmo objetivo de promover a revisão desses dois textos e procurando incorporar novos instrumentos de política urbana, criados e regulamentados pelo Estatuto das Cidades em 2001. Os principais resultados da conferência foram submetidos a apreciação e aprovação da Câmara em setembro de 2005 por meio do Projeto de Lei 655. Aprovado em primeiro turno em dezembro de 2006, tal projeto vem, desde então, passando por um processo de constantes retiradas e retornos à tramitação para votação em segundo turno.

Enquanto isso, a administração de Belo Horizonte não está parada em relação ao planejamento e à gestão dos processos de ocupação e ao uso do solo. O planejamento e a gestão urbanos poderiam, portanto, prescindir de um Plano Diretor e uma Lei de Uso atualizados? Por um lado, deve-se ter em conta que ambos são apenas instrumentos de planejamento e de gestão. Quando se pensa no planejamento urbano como processo, é também imprescindível a construção de uma prática contínua de base técnica e participativa. Em Belo Horizonte, observa-se que isso vem ocorrendo desde 1993. É um processo complexo, uma vez que combina medidas imediatas, necessárias ao atendimento das urgentes carências socioespaciais, com a busca constante da consolidação de um processo de planejamento que incorpore a pesquisa e a visão de longo prazo, orientadas pelas necessárias mudanças sociais e estruturais.

Por outro lado, as decisões da segunda conferência, que contaram com ampla participação da sociedade civil, não podem ser negligenciadas. São decisões que incorporam propostas de mudanças e novos instrumentos de planejamento e de gestão que poderão trazer contribuições importantes para a consolidação da prática de planejamento urbano. Trata-se de um processo que exige tempo, uma vez que deve incorporar e aperfeiçoar formas de planejamento e de gestão técnicas e participativas em um contexto complexo, de natureza social, que é a cidade brasileira. Enfim, é um processo que não coaduna com eventual forma de gestão que tem o choque, a busca urgente da eficiência administrativa, como característica principal.

* Professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFMG

É possível evitar uma tragédia dessas?

A Revista Época dessa semana abriu o debate e nós podemos contribuir.

"Uma das piores calamidades dos últimos anos alagou Santa Catarina e comoveu o país. O que fazer para que nossas cidades não fiquem tão vulneráveis?"

sábado, 29 de novembro de 2008

O Escritório de Integração na Campanha SOS Santa Catarina II

Complementando o post anterior, estão disponíveis três contas correntes para auxílios de qualquer valor, em nome do Fundo Estadual da Defesa Civil (CNPJ 04.426.883/0001-57). São elas:

- Banco do Brasil - Agência 3582-3, Conta Corrente 80.000-7

- Besc - Agência 068-0, Conta Corrente 80.000-0

- Bradesco S/A - Agência 237, Conta Corrente 09484

- Caixa Econômica Federal - Agência 1877, Operação 006, Conta 80.000-8

- Itaú - Agência 0289, Conta 69971-2

- Banco/Sicoob SC - Agência 1005, Conta 2008-7

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Escritório de Integração na Campanha SOS Santa Catarina


Prezados Colegas, alunos e leitores desse Blog,
o Escritório de Integração do DAU/PUCMinas irá disponibilizar seus espaços ao longo desta e da próxima semana para recolher donativos que serão enviados para Santa Catarina.
Bruna, nossa secretária, nós informou que o marido dela, originário de Santa Catarina irá enviar um caminhão com ajudas para as populações atingidas por esta catastrofe.
Fazemos apelo a todos vocês para que possamos ajudar nossos irmãos nesse momento de sofrimento.
Bruna se encarregará de recolher os donativos que serão entregues no Escritório de Integração no prédio 47 do Campus Coração Eucarístico da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Marção por favor veicula esta noticia no seu Blog.
Abraços.
Alfio e Leta

CAMPANHA: SOS Santa Catarina!
Em face da calamidade publica instalada no Estado de Santa Catarina, vimos por meu deste pedir uma possível ajuda dos senhores no sentido de tentar aliviar o sofrimento de nossos irmãos que estão sendo vítimas das chuvas e inundações que ocorrem em grande parte do Estado. Tenho certeza de que os que estão no meio do “furacão” já estão de mangas arregaçadas e de um jeito ou de outro estão fazendo sua parte.

Meu esposo é catarinense da Cidade de Blumenau e venho através deste pedir a ajuda de todos para contribuição de,
Quem quiser doar favor me procurar no Escritório de Integração, pois terá um caminhão da empresa que meu marido trabalha aqui em Belo Horizonte na próxima semana.

A defesa civil, http://www.defesacivil.sc.gov.br/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1, sugere produtos como roupas,cobertores, colchões como prioridade, mas é claro que numa situação destas tudo é muito importante. As pessoas que preferirem doar dinheiro, já têm a disposição contas especificas no Banco do Brasil/Besc.

Por fim agradecer a todos pela atenção e pela colaboração oferecida.

O Telefone do EI é 33.19.41.54 e funciona de segunda a sexta de 08:30 as 12:30 e de 13:e30 a 17:30, para entregas fora deste horério podem mandar e-mail para integra@pucminas.br

Acompanhe o blog do Escritório de Integração


Em apenas um clique você pode acompanhar o blog. É simples. Basta ir ao fim da página e seguir as instruções.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A Vila Novo Ouro Preto recebeu os projetos das turmas de Planejamento Habitacional


Amigos, hoje, como já foi anunciado neste Blog, as turmas da Disciplina de Planejamento Habitacional da Profa. Leta e do Prof. Alfio foram até a Vila Novo Ouro Preto onde encontraram as lideranças e parte da população. Foram expostas e apresentadas, aos moradores, as propostas que os grupos elaboraram ao longo do semestre (melhorias habitacionais e ambientais da vila, assim como propostas de reassentamento das famílias retiradas da área onde foi implantado o Parque Linear ao longo do Córrego da Cidadania).
Os alunos, em uma atividade que pareceu muito com uma feira com "stands", e que ocupou a tarde inteira, apresentaram as propostas aos moradores interessado, que por serem os verdadeiros clientes puderam avaliá-las, esclarecendo dúvidas e fazendo críticas.
Contamos com o apoio da líder da associação de moradores da Vila Novo Ouro Preto - AMACIDADANIA, Edina Teixeira Barbosa que sempre se prodigou em firmar a parceria entre a associação e a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais através do Escritório de Integração do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e, principalmente, através das Disciplina de Planejamento Habitacional e Política Habitacional. Esta parceria existe desde ano de 2002.
Fomos homenageados também, com a presença do Senhor Antônio, antigo morador da vila e primoroso mestre de obra, mestre e amigo de longa data da Profa. Leta.
As propostas, como é de tradição, foram entregues aos moradores para que possam se tornar instrumentos de mobilização e reivindicação por parte da comunidade junto às instâncias publicas e privadas.
O resultado positivo do evento nos leva a pensar que pode ser reproposto no próximo semestre.
Para os nosso alunos desejamos um merecido descanso nas férias de final de ano.
P.S. Agradeço quem sinalizar eventuais, e muito prováveis, erros de português.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Favelas S/A

A reportagem abaixo mostra que os desafios para trabalhar em uma favela são mais complexos que imaginamos. Velhos paradigmas precisam acabar.

Para não estender demais esse post, em breve posso retomar essa discussão.
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"Sem direitos econômicos, favelas movimentam bilhões

Pelo menos um em cada quatro moradores do Rio vive num capitalismo sem leis, selvagem, à margem do Estado. Esse mercado paralelo, que ferve em favelas da cidade, gerou negócios que aumentaram tanto sua cotação nos últimos anos que, numa bolsa de valores imaginária, suas ações disputariam hoje os gritos mais ensurdecedores de um pregão. Longe das leis vigentes no asfalto, pulsa um mercado rico, dinâmico e, em alguns aspectos, caótico, que fatura mais de R$ 3 bilhões por ano. O Globo seguiu o rastro do dinheiro para tentar mensurar essa economia emergente, apesar dos poucos dados disponíveis, e publica uma série de reportagens que vai revelar quem lucra com esses negócios.

Brigando por um naco dessa fortuna pouco conhecida, estão atividades formais, informais e ilegais, num ambiente heterogêneo que agrega de biroscas a bancos, das "firmas" do tráfico a milícias. Os moradores formam uma massa de potenciais consumidores estimada entre 1,3 milhão e dois milhões de pessoas, com renda anual que pode chegar a algo entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões. Números que, a despeito de divergências estatísticas, fazem tinir cifrões nos olhos de qualquer empresário. Seja no varejo ou no atacado, no oficial ou no paralelo, a holding Favela S/A enriquece poucos, explora milhares e dá calote no Estado.

A desigualdade social e a falta de projetos de habitação popular já não são suficientes para explicá-las. Hoje, as favelas concentram de um quarto a um terço da população da capital e, contrariando suposições que acabaram virando verdades, elas não são mais reduto de miseráveis. A radiografia mostra que, ao contrário do Estado, que ainda não se fez presente de forma efetiva, o mercado se apropriou da dinâmica das favelas e as transformou numa potente máquina de gerar riquezas. Um fenômeno que deixou para trás alguns conceitos antigos e uma imagem romântica das favelas.

A massa de salário das pessoas foi obtida atualizando os dados do Censo do IBGE que apontavam uma renda familiar de R$ 634,50 nessas áreas, segundo dados do Instituto Pereira Passos, da prefeitura. O faturamento do comércio foi calculado a partir de estimativas de empresários de vários setores e agentes públicos, além de um censo realizado em 2000 em 44 favelas do Favela-Bairro, que apontava uma média de 91 empresas por favela, com receita média anual em torno de R$ 15 mil. São R$ 3 bilhões, sem contar os bilionários e ainda desconhecidos lucros do tráfico."

Fonte: O Globo On Line - 28/08/2008

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

As turmas da disciplina de Planejamento Habitacional e de Política Habitacional vão para a Vila Novo Ouro Preto


A disciplina de Planejamento Habitacional em parceria com a disciplina de Política Habitacional, retomou, este semestre, após um intervalo de mais de um anos, o tema projetual da intervenção em vilas e favelas continuando a parceria com a Vila Novo Ouro Preto localizada na Regional Pampulha, na cabeceira do Córrego Cidadania.
Diferentemente do passado onde eram convidados lideranças e membros da comunidade na banca de avaliação final, para arguir a respeito das propostas elaboradas pelos alunos, as propostas projetuais serão apresentadas na Vila na próxima quarta-feira dia 28 de novembro a partir de 14:00 horas.
As turmas da prof.a Leta e do prof. Alfio, do nono periodo de Arquitetura e Urbanismo da PUCMinas irão se deslocar de ônibus até a Vila onde serão expostos os projetos nos ambientes da igreja católica local. Dessa maneira toda a população da vila poderá ter acesso ás propostas. Para viabilizar esta proposta cada grupo irá preparar uma apresentação que será exposta na Vila sendo compreensiva e instigadora para os clientes contendo banners com desenhos, perspectivas, textos explicativos, maquetes etc. Os alunos irão utilizar todos os recursos disponíveis para explicitar a proposta de cada grupo, mesmo sem um apresentador "ao vivo".
A lider local Edina convidará as pessoas que puderem estar presentes e para estas cada grupo apresentará, na medida da curiosidade e dúvidas delas. Estas pessoas irão se tornar agentes locais, monitores da exposição nos finais de semana, quando outros poderão participar.
Os trabalhos, assim como é de praxe nestas oportunidades serão doados à comunidade, podendo-se tornar mais um instrumento de conscientização e mobilitação da comunidade na busca de um habitat mais digno e humano.
Quem estiver interessado a participar deste evento entre em contato com Bruna do Escritório de Integração do DAU/PUCMinas, 33194154, ou mande um e-mail para integra@pucminas.br

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Pensar Arquitetura!

Lendo uma entrevista na Revista AU do arquiteto Patrik Schumacher, sócio de Zaha Hadid, que esteve a pouco no Brasil, fiquei a pensar sobre algumas questões. Segundo o arquiteto, “o Brasil é um país isolado (...) em relação à arquitetura mundial.” Schumacher proclama o fim das arquiteturas nacionais e do modernismo. "Mais do que nunca, vivemos em uma sociedade mundial. As culturas das arquiteturas nacionais desapareceram, ou, se ainda existem, estão com os dias contados", diz.

Segundo a entrevista, intitulada “As arquiteturas nacionais estão com os dias contados?” me intriga, pois vejo ser um pensamento muito primário do que é arquitetura. Em um trecho da entrevista, o arquiteto diz que “As arquiteturas nacionais são coisa do passado. Há 30 anos, você ainda iria a cidades que tinham heróis locais que faziam os edifícios públicos, que era professor e um representante da profissão. Hoje isso não é mais aplicável: arquitetos vão a várias partes do mundo e participam de concursos, e levam seu trabalho. Na Europa, todo concurso público tem de ser aberto a pelo menos todos os países europeus.”

Penso que a Arquitetura é influenciada, ou deveria ser sim, pelas regionalidades. Cada cidade, região, estado, país, tem uma história, uma cultura, uma maneira de viver e vivenciar o espaço completamente distintas. Não digo aqui que não devemos globalizar a arquitetura, mas acho que cada um tem uma contribuição a ser dada e, através desta regionalização, há a diversidade e aí sim uma globalização. Não penso que a arquitetura é efêmera, igual, homogênea.

Em outra entrevista à AU, o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, comenta algo que penso ser mais coerente. Arquiteto reconhecido pelo aproveitamento de sistemas naturais antes mesmo da "onda" da sustentabilidade afirma que, mais do que necessidade de preservação de recursos, essas questões eram encaradas como uma forma de humanização dos projetos. Segundo Lelé, "não existe trabalho de arquitetura sem considerar as questões ambientais". Comungo com as convicções deste arquiteto, que há muitos anos vem demonstrando que a arquitetura está além da estética, da forma e da função. Ela deve estar relacionada com diversos fatores, entre eles o ambiental, a fim de se integrar ao meio.

Em um trecho da entrevista, Lelé relata que “a idéia de priorizar sistemas naturais começou com meu trabalho no ambiente hospitalar. Você precisa humanizar esses locais. Por exemplo, a luz artificial é um problema. Há 30 anos, não se pensava em sustentabilidade e não havia problema de fornecimento energético. Era uma questão de humanização do projeto. Já a climatização por meio de ventos foi uma forma de controlar a infecção hospitalar.”

Quando perguntado como encara a “onda” da sustentabilidade, ele responde que “Eu continuo trabalhando da mesma forma que sempre trabalhei. Já trabalhava as questões ambientais, de humanizar. Quando me formei em arquitetura, dava-se muita importância ao sol, à ventilação natural. Acho que depois da guerra houve um funcionalismo que perdeu essas características. Hoje, essas questões estão voltando e as pessoas pensam que estou nisso.”

O link que faço entre estas duas entrevistas distintas, se dá pelo comentário feito por Lelé em outro trecho da entrevista. Quando é perguntado sobre Dubai, um dos maiores exemplos que podemos expor quanto à globalização da arquitetura exposta por Patrick Schumacher, ele diz que “Dubai executa diversas proezas pelos altos investimentos que são realizados na cidade. Há bons projetos e bons arquitetos no local. Há diversas proezas arquitetônicas, mas isso também não significa que seja uma boa arquitetura. Não há problema na proeza, mas sim em como é feita. Por exemplo, a Ópera de Sidney se transformou em um ícone internacional que representa a Austrália. O mesmo ocorre na ponte Golden Gate, na baía de São Francisco (EUA).”

Venho discutindo estas questões a algum tempo com amigos, arquitetos ou não, como Dubai hoje é um “samba do crioulo doido”, e que, hora alguma, percebemos uma preocupação com as questões ambientais. Ao vermos as ilhas Palm Trees sendo construídas, foi pensando na alteração do ciclo de marés? A densidade absurda e as imensas construções foi pensada de acordo com a estrutura geológica local e a condição dos ventos? Como manter uma cidade deste porte, no meio do deserto? A energia e os recursos naturais para que isso funcione e se mantenha?


Dubai 1991

Dubai 2005

Fonte: http://blog.uncovering.org/archives/2006/01/dubai.html

Minha crítica a esta chamada “arquitetura globalizada” se dá pela pouca atenção que se dá em relação às questões ambientais e a perda de identidade local. Como Lelé mesmo colocou, os monumentos arquitetônicos são muitas vezes, ícones nacionais e esta “regionalização”, pensados e planejados de acordo com o local onde está se implantando uma obra é de extrema importância.

Acho sim que arquitetos estrangeiros façam e desenvolvam seus trabalhos em qualquer lugar do mundo, mas se não houver uma preocupação com as questões ambientais, geológicas, climáticas, temos apenas proezas de engenharia e não ícones de uma boa arquitetura.

http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/joao-filgueiras-lima-o-lele-afirma-que-nao-ha-arquitetura-113640-1.asp?from=Correio+Pini

http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/forum-as-arquiteturas-nacionais-estao-com-os-dias-contados-115874-1.asp?from=Correio+Pini

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Universalizar o mutirão é universalizar o desemprego

"'Universalizar o mutirão é universalizar o desemprego. Como política pública, o mutirão é uma solução como pintar de verde e amarelo as favelas do Brasil'. Com estas frases, o sociólogo Francisco Oiveira (USP) sintetizou seu discurso diante de uma platéia estarrecida no seminário "Políticas habitacionais, produção de moradia por mutirão e processos autogestionários: balanço crítico de experiências em São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza", nesta segunda-feira, na Cidade Universitária.

Segundo Oliveira, o sistema de mutirão supõe que os participantes estejam desocupados. Assim, sua adoção como política pública teria um impacto no desemprego e tenderia a eternizar a má distribuição de renda no país. Mesmo após a intervenção de vários arquitetos que trabalham com mutirões há anos, o sociólogo manteve suas afirmações e as apoiou em dados de pesquisas de grupos da própria universidade.

"A industrialização do Brasil se fez sustentada na auto-construção, por um lado, e no investimento estatal, por outro", raciocinou. "Com isso, o custo da habitação quase desaparece. Com o salário mínimo sendo calculado em valor de subsistência da família típica, esse investimento não contava. Aí há uma transferência de renda por meio do rebaixamento do salário. Então esses modelos de financiamento da habitação agravaram a situação do trabalho". O sociólogo ligou a questão da habitação intimamente ao problema do trabalho: "Nas classes populares não existe mercado imobiliário. O imóvel não é mercadoria, só tem valor de uso. Por outro lado, as famílias abaixo da linha da pobreza, na maior parte desempregada, é que gastam seu tempo no mutirão. Para funcionar como política pública, a auto-construção exige que todos estejam desempregados". Oliveira criticou ainda o tipo de relações sociais criadas pelo mutirão.

Ele afirma que nos mutirões das políticas públicas, ao contrário dos mutirões tradicionais, é preciso que haja coerção para a criação de uma comunidade artificial. "Não há identidade entre estas pessoas, porque a precariedade da situação delas não plasma nenhuma experiência coletiva. Uma liderança de Santa Maria Gorete, em Fortaleza, me disse que é preciso coagir para haver unidade e funcionalidade. Isso não é formação de cidadania, está no pólo oposto", disparou.

Na análise de Oliveira, quando termina a construção do mutirão, a carência cessa e a coesão artificial desaparece, mas o desemprego e a baixa renda continuam, deixando espaço para a violência. A solução, para o sociólogo, consiste em endereçar a construção da habitação por seu caráter de mercadoria. "Uma solução seria o empréstimo - todo crédito é um adiantamento sobre renda futura. Só o empréstimo a custo zero distribuiria a renda no Brasil. Eu aconselharia pegar os recursos do Fome Zero e subsidiar a Caixa Econômica para que ela desse empréstimos a juro zero", provocou."

Fonte: http://www.reportersocial.com.br/

terça-feira, 11 de novembro de 2008

9ª Conferência das Cidades

Parece falta de assunto, mas não é. É um assunto importante porque está ligado a um projeto que o Escritório de Integração participou e poderá (e deve) participar de outros do gênero. E além disso foi um tema bastante divulgado na "Crise [!]", como vocês verão.

Por isso tudo é que repeti na íntegra o post publicado na "Revista Crise [!]" aos leitores do Integração.

Está um pouco em cima da hora, mas vale a pena divulgar o evento. Quem estiver na área, é uma pedida.

"Em sua 9ª edição, a Conferência das Cidades de 2008 - evento promovido anualmente pela Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara - terá como tema a "Sustentabilidade nas Cidades Brasileiras", e será realizada nos dias 11 e 12 de novembro no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, em Brasília. Especialistas estrangeiros e brasileiros vão debater e refletir sobre políticas e estratégias que podem ser adotadas para garantir a sustentabilidade das cidades brasileiras, baseadas em experiências bem sucedidas no País e no exterior.

O evento é dirigido a parlamentares, governadores, prefeitos, gestores, técnicos, arquitetos, urbanistas, acadêmicos e representantes do poder público e da sociedade civil organizada.

A íntegra da programação e as inscrições estão disponíveis no endereço eletrônico da Câmara: http://www.camara.gov.br/ "

Fonte: CDU
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No evento, Belo Horizonte será agraciada com o prêmio Selo Cidade Cidadã com projeto de recuperação e regeneração de áreas degradadas. Procurei mas não encontrei o projeto vencedor. Se foi a "Linha Verde" que ganhou o prêmio, acho que pularei de um dos inúmeros viadutos que construíram ou afogarei no Rio Arrudas coberto pelo "Bulevar" Arrudas. Obras da Prefeitura e do Governo do Estado. Para não dizerem que sou de esquerda ou de direita, respectivamente os chefes do executivo municipal e estadual são do PT e PSDB.

E o mais engraçado é que Belo Horizonte podia ter feito algo pioneiro através de um programa financiado pelo Ministério das Cidades, que tinha o mesmo objetivo de recuperar e regenerar áreas degradadas, conforme post http://revistacrise.blogspot.com/2006/10/viadutos-urbanos-que-ser-que-se.html, mas só fez mancada em todos os aspectos: arquitetônico, urbanístico, econômico, social e jurídico. Vale a pena ler o post.

Aliás, há vários posts sobre viadutos nos links: http://revistacrise.blogspot.com/2006/10/na-contramo.html, http://revistacrise.blogspot.com/2006/10/planejamento-urbano.html, http://revistacrise.blogspot.com/2008/10/recuperao-de-crregos-canalizados.html.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ensino de Arquitetura e Urbanismo


O saudoso arquiteto Joaquim Guedes concedeu uma entrevista ao site ArcoWeb. Compartilho um trecho com vocês e o comento.

Nesse trecho, ele afirma que o aluno dedica apenas um pouco mais de 8% do tempo ao projeto. Para Guedes, isso é insuficiente.

É óbvio que o entrevistado não deseja o fim do estudo das teorias. Apenas ressalta a importância em se aplicar esse estudo, juntamente com a análise de outras obras, á prática projetual.

Na esteira dessa observação, a PUC alterou o currículo dela onde o aluno desde o início do curso começa a projetar ou a ter uma noção do que vem a ser o projeto.

Integrando todas as disciplinas do período, os alunos ficam mais seguros e livres para projetar algo para um lugar ou alguém. Dessa forma, o aluno fixa todos os conceitos de desenho técnico e gráfico, além de teoria. Ou seja, a participação dos alunos em atelier ou estúdios é mais intensa. E os alunos podem contar com todos os professores das disciplinas do período para debater e discutir o projeto. É o que pretende-se: aliar o ensino de teorias com a prática projetual desde o primeiro período ou desde cedo. É uma sensação muito boa, no primeiro período, você conseguir projetar algo e bem fundamentado, dentro daquilo que foi ensinado.

Além disso tudo, reforçando a tese do professor e arquiteto Guedes, o Escritório de Integração poderá contribuir e muito no ensino teórico-projetual dos alunos, desde que haja possibilidades de firmar convênios e parcerias com empresas, ONGs, Poder Público e afins para a consecução de projetos que estejam dentro da proposta do Escritório. E o Escritório poderá contribuir e muito no ensino de tecnologias, tema pouco estudado nas escolas, segundo Guedes.

Desde que conheci o DAU e o EI da PUC percebo um certo pensamento institucional. Todos procuram deixar os motivos pessoais de lado para investirem no bem do ensino. E isso é bom e fundamental. Caso contrário, a Escola estará fadada ao fracasso. Assim como o ensino. Mesmo a PUC. Essa visão é de um aluno, claro. Mas pode ser verdadeira.

Enfim, a implantação do currículo está no início e toda mudança é cara e dolorida. Em que pese as falhas, penso que as qualidades desse currículo contribuirão muito para um ensino de qualidade. Principalmente porque os professores demonstram estarem atentos à mudança.

Segue o trecho da entrevista:

"Depois de 42 anos dedicados ao ensino, como o senhor vê o ensino, hoje, no Brasil e comparado ao cenário internacional?

Ao que parece, há uma grande insatisfação mundial, porque se sente muita dificuldade de diálogo entre os vários departamentos das escolas. No caso brasileiro, a competição entre professores é muito grande em algumas escolas, e ninguém admite crítica, que é fundamental para o processo criativo. Outro problema de nossas escolas é o pouco tempo destinado ao estudo de projeto. O professor Gustavo Neves da Rocha, do Departamento de História da FAU/USP, fez um trabalho muito interessante, em que constatou que apenas 8,3% do tempo do aluno é consagrado ao projeto. Isso é trágico porque, apesar de todos as cadeiras tratarem de arquitetura, ensinar projeto é bem mais do que falar de arquitetura. É mais do que uma análise comparada da arquitetura de todos os tempos. História e tecnologia são importantes, mas o tempo que se dedica a isso numa escola de arquitetura e a qualidade do ensino desses cursos têm que ser repensados. São cadeiras importantes, mas tomam muito tempo do ensino do projeto.

O ensino de história é notável; o de tecnologia nem sempre, porque não se ensina tecnologia e construção de verdade nas escolas de arquitetura. Trata-se apenas de um verniz de tecnologia; a verdadeira tecnologia fica para as escolas de engenharia e os institutos. Se, por um lado, é difícil a crítica do trabalho de um colega, por outro, também não é comum ouvir elogios ao projeto dos outros... É. E sabe por quê?

É que ninguém é perfeito. Se você vai elogiar uma coisa, tem que, em contraposição, criticar outra. Por exemplo, eu gosto demais do trabalho do [Marcos] Acayaba. Mas acho que ele se perde em formalismos estruturais que, na minha opinião, são um desvio, por mais brilhante que resulte a forma. Acho difícil só elogiar o trabalho de um arquiteto, o correto é analisar criticamente o que ele faz, destacando os pontos que se consideram positivos e mostrando aqueles com os quais não se concorda. Considero Acayaba um arquiteto de grande capacidade e ele provavelmente não está interessado em saber minha opinião. Falar bem é também falar criticamente, é preciso ir sempre a fundo nas coisas."

E por falar em rios, córregos e eleições

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

ENADE

"Mais de meio milhão de universitários vão fazer, neste domingo (9/11/2008), as provas do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Em todo o país, foram selecionados pelo governo federal 564.690 alunos, entre ingressantes e concluintes. Os exames são obrigatórios para o aluno escolhido e quem não comparecer não poderá colar grau. Os testes serão feitos em 2.274 locais em todo o país, às 13, e os estudantes deverão responder 30 questões de formação específica e 10 de formação geral. Em Minas, foram sorteados 55.385 estudantes, dos quais 13.010 só em Belo Horizonte.

Nesta edição, o Ministério da Educação (MEC) vai avaliar os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Biologia, Ciências Sociais, Computação, Engenharia, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia e Química. Também será verificado o desempenho dos cursos superiores de tecnologia em: Construção de Edifícios, Alimentos, Automação Industrial, Gestão da Produção Industrial, Manutenção Industrial, Processos Químicos, Fabricação Mecânica, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Redes de Computadores e Saneamento Ambiental.

Os resultados da edição passada do Enade puseram Minas Gerais no topo da excelência do ensino superior. Os dados, relativos às provas feitas em 2007, foram divulgados no último mês de agosto." Fonte: www.uai.com.br - acessado em 6/11/2008

É importante, também, que o aluno preencha com atenção o "Cartão de Informação do Estudante" enviado pelos Correios aos alunos. Isto porque as possíveis falhas serão analisadas e corrigidas. Ou seja, o preenchimento correto do Cartão contribuirá para a melhora da qualidade do ensino.

E façamos as provas com calma e responsabilidade. Os resultados também são um norteador para o ensino. Sem falar que o resultado final do ENADE poderá refletir no mercado de trabalho. Qualquer dúvida, procure a secretaria do curso.

Boa prova para todos nós.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O rio São João e a cidade de Itaúna

Lembrando dos nossos rios e de sua importância para nossas cidades, posto esta carta escrita alguns meses atrás para o Blog do colega Sergio Machado.

Prezado Sergio,
obrigado pela possibilidade que você me oferece de falar de Itaúna. Agradeço também pelo elogio de me considerar um estudioso de Itaúna. Sempre me considerei e continuo me considerar nada mais que um atento observador. Confesso que gostaria de poder dedicar mais tempo ao estudo dessa cidade porque, além da empatia natural que se cria facilmente entre quem, como nós, tem uma formação onde o ambiente urbano não passa despercebido, acho Itaúna uma cidade importante.
Importante por um conjunto de razões entre as quais colocaria em primeiro lugar a possibilidade de compreensão do papel das cidades médias em um contexto regional perimetropolitano, já que são estes organismos urbanos que conservam ainda aqueles aspectos que são típicos da vida urbana e que são cada vez mais raros nas grandes cidades e nas metrópoles. Estes aspectos aos quais me refiro concorrem para definir a qualidade de vida de uma cidade e são, entre outros, a disponibilidade de trabalho, o fácil acesso aos bens de uso público de qualidade por parte de todos os cidadãos, a possibilidade de deslocamentos a pé ou a utilização de meios de transporte coletivos eficientes, a ausência de congestionamento, a ausência de poluição, a falta ou quase da chamada violência urbana que na metrópole alcança níveis cada vez mais insustentáveis.

A descentralização metropolitana com a descentralização de atividades e de população que saem do centro metropolitano em busca da qualidade urbana é um fenômeno que interessa Itaúna e que vai interessá-la cada vez mais colocando para a administração local escolhas que definirão o futuro da cidade a médio e longo prazo.

O fenômeno da descentralização metropolitana parece não ser contemplado na proposta do novo plano diretor que tem no âmbito da inserção regional da cidade no sistema urbano regional um ponto de fraqueza. Como e de que maneira Itaúna for crescer e como o crescimento vai ser conduzido é um aspecto estratégico ainda a ser resolvido que não se pode exaurir na proposta de adensamento da zona urbana existente sob pena de ter como conseqüência processos de derramamento do urbano (informal e de baixa qualidade como novos loteamentos ilegais) por além dos limites impostos pelo plano diretor. A proposta de adensamento da zona urbana assim como a proposta de áreas de expansão (praticamente inexistentes no plano diretor em fase de aprovação) deve ser sustentada por um projeto de melhoria e complementação das infra-estruturas existentes e em primeiro lugar da infra-estrutura viária já que a infra-estrutura viária, como todo mundo sabe, serve de suporte para a maioria das outras (drenagem, esgotos, água, eletricidade etc.).

Observando rapidamente as soluções utilizadas e implementadas em anos recentes no centro urbano de Itaúna (Avenida São João, Avenida Jove Soares) percebe-se como a abordagem utilizada na implantação da infra-estrutura viária local, que resultou determinante na solução projetual, foi influenciada por uma ideologia sanitarista míope que, aplicando uma solução de engenharia (consolidação das margens com a criação de uma avenida sanitária e dimensionamento da calha fluvial) desconsiderou um conjunto de dimensões sistêmicas ambientais (bacia hidrográfica, alteração do regime hídrico dos aqüíferos em relação ao processo de ocupação e permeabilização do solo etc.) que vão bem além da solução (pontual) em si.

As soluções mostram a incompreensão das características e das dinâmicas ambientais locais e, ao mesmo tempo, a incompreensão das características e das dinâmicas urbanas desta porção de espaço que por muito tempo ficou tão perto geograficamente e tão longe dos interesses do capital empresarial.
Se não me falha a memória a canalização do rio são João com a retificação do seu curso remonta aos anos 70, a consolidação de suas margens é mais recente, data dos anos 90, assim como provavelmente a implantação da Avenida São João. Isso significa que por quase 30 anos esta área acabou sendo esquecida. As razões deste esquecimento podem ser compreendidas, não podem, porém ser justificadas as maneiras adotadas para sua integração, que de fato ainda está longe de acontecer, tanto em termos de utilização, já que neste espaço encontra-se além do grande equipamento da Universidade de Itaúna (o centro esportivo), um conjunto de atividades industrias de pequeno porte, um comercio em alguns casos varejista, permanecendo em geral ainda uma baixa densidade em razão da dimensão dos lotes e do processo de ocupação que ainda está em curso.

Em termos de articulação, é patente a sua fragilidade, com articulações mais consolidadas ao longo da rua Silva Jardim a oeste, muito em razão da direção de mão da Avenida São João na margem direta do rio. A articulação norte-sul existe somente nas suas extremidades com a única exceção da passarela de pedestres localizada praticamente em frente a entrada do centro esportivo. Estas articulações norte-sul representam um problema histórico na articulação da área central com o mais importante eixo viário, a rodovia MG-050, afinal com Divinópolis a Oeste e Belo Horizonte ao Leste.

O processo histórico de ocupação da área fez com que a população ocupasse no século XVII, as encostas do Morro do Rosário para se proteger e serem protegidos, ao mesmo tempo, pelas enchentes e pela presença do Rio São João e, ademais poder controlar o entroncamento viário que permitia alcançar ao norte Pitangui, ao Oeste a Passagem de Itapecerica (atual Divinópolis), ao sul São Paulo e ao leste Ouro Preto (antes da construção da nova capital). Esta vantagem estratégica dentro das exigências do século XVII tornou-se um obstáculo no século XX e ainda hoje permanece como tal. O único acesso direto da rodovia MG-050 para o centro é a rua Silva Jardim, antes o acesso era pela rua da Ponte continuação da Rua Santana, ou vice-versa (a ponte estreita ainda existe), cuja congestão é conhecida por todos nós, com o problema maior concentrado no entroncamento entre Silva Jardim, Dona Cota, Miguel Augusto e a própria estrada de ferro.

A solução da continuação da Jove Soares e sua conjunção com a Silva Jardim é uma solução esperada a muito tempo, bem vinda em termos de concepção (transposição transversal, minimizando os impactos no curso d´água) mas que ainda não está funcionando e, do meu ponto de vista, não vai ser a solução que vai resolver todos os problemas que afetam esta região porque vai simplesmente transpô-los para o entroncamento com a Silva Jardim que vai continuar congestionada (basta pensar ao tanto de entroncamentos que existirão em menos de 500 metros de comprimento: Jove Soares, Avenida São João, Dona Cota etc.).

A meu ver precisa-se de mais opções de ligações com a MG-050, o que é dificultado por causa de adensamento da ocupação no Bairro Universitário e a cota do greide da MG-050. Sugiro pensar a utilização da rua da Ponte (com o alargamento da ponte existentes) e uma terceira opção ladeando o centro esportivo evitando a tentação da continuação da Avenida São João em direção oestes. No que diz respeito ao Rio São João o comprometimento de suas margens consolidadas e ocupadas pela homônima avenida sanitária fica registrado na esperança que seja vingada a idéia das zonas de proteção ambiental da sua várzea e dos seus afluentes que reduziriam o risco de seu transbordamento, cada vez mais provável dentro de um processo de impermeabilização da sua bacia e dos seus contribuintes (algumas pessoas me informaram que em época de chuvas a cheia do Rio São João chega a beirar o vigamento da ponte), e na esperança que se possa um dia pensar, assim como acontece em outros âmbitos nacionais e internacionais, na re-naturalização do rio São João neste trecho. Sonhar uma cidade melhor não custa, mas também somente sonhar não basta.

Para quem leu até agora, obrigado pela paciência. Pelos alunos do Estudo de Arquitetura e Urbanismo III da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Itaúna desejo um bom trabalho.

Alfio Conti

Arquiteto e Urbanista

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Itaúna

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Morte e VIDA das grandes cidades

Esse período de mudança política nos municípios brasileiros nos leva a pensar, ainda mais, no futuro de nossas cidades. Temos visto nas campanhas, plataformas de governo, propagandas e debates que haverá, ao longo dos próximos 4 anos, investimentos em “obras públicas”, “obras de infra-estrutura básicas” e tantas outras obras que podemos chamar de “eleitoreiras”.
Devemos parar e pensar no que queremos para as nossas cidades e o que serão estas “obras públicas de infra-estrutura básica (?)”. Penso que estamos indo na contramão das boas práticas, tendo em vista o que queremos em nossas cidades. Não é a canalização de córregos, construção de vias e mais vias asfaltadas e viadutos sem fim que priorizam o transporte privado (o grande vilão da qualidade de vida dos grandes e nem tão grandes centros urbanos) que nos proporcionará qualidade de vida.
Por que não nos inspiramos nas boas práticas? Por que não pensamos e pesquisamos no que é feito de qualidade e real melhoria na vida das pessoas, ao invés de irmos a favor dos interesses econômicos?
O vídeo abaixo, que infelizmente está em inglês, nos mostra o que a boa vontade política aliada à vontade de melhorias qualitativas pode fazer. A cidade de Seul, no ano de 2005, inaugurou a revitalização e requalificação do seu principal rio urbano, sinônimo de vida e prosperidade da cidade, que foi canalizado e esquecido para dar lugar a grandes avenidas e viadutos. Esta transformação urbana durou somente 3 anos e os investimentos aplicados se comparam a outras obras de “infra-estrutura básica (?)” que vemos sendo feitas nas cidades brasileiras, mas sem reais transformações e retorno da qualidade de vida das pessoas.



Quando vamos ver isso por aqui? Qual o futuro que queremos para as nossas cidades? Devemos pensar agora, criticar o que vem sendo feito, analisar e procurar mudar este quadro, enquanto ainda temos chance de mudar.

O maior problema de Belo Horizonte



A foto acima consta na edição 2084 da Revista Veja do dia 29 de outubro de 2008.

Segundo a reportagem, o saneamento é o principal problema que o próximo prefeito irá enfrentar.

Trabalho é que não nos faltará.

sábado, 25 de outubro de 2008

Política municipal de habitação em Belo Horizonte - o Residencial Asca: um estudo do Programa de Autogestão

Compartilho o seguinte texto: http://www.habitare.org.br/pdf/publicacoes/arquivos/colecao7/capitulo_15.pdf.

Refere-se a uma das experiências alternativas em habitação popular identificadas em Belo Horizonte na década de 1990.

Propõe-se a caracterizar o processo do regime de autogestão, adotado na construção do Conjunto Urucuia, em Belo Horizonte. Compõe-se da descrição do programa de autogestão em Belo Horizonte, acrescida da caracterização do projeto arquitetônico desenvolvido no conjunto, da solução urbanística adotada e do sistema construtivo empregado.

A partir de uma pesquisa de campo, buscou-se resgatar experiência da pós-ocupação, ou seja, o uso e apropriação dos espaços construídos e seus resultados encontram-se relatados no último item.

A experiência aqui relatada não se configura como uma experiência inovadora uma vez que a autogestão como prática para a solução de problema habitacional já existe no Brasil, desde os anos de 1980, ainda que de forma incipiente.

A autogestão é aqui entendida como uma das formas de produção de unidades habitacionais da política habitacional de Belo Horizonte para população de baixa renda. Prevê a participação pelos futuros moradores, mediante a adoção do processo de autoconstrução e de mutirão com assessoria técnica. Inclui também, necessariamente, a participação direta do gestor municipal da política habitacional atuando como provedor de recursos financeiros e/ou mediador na busca de financiamento, como controlador do cumprimento da legislação pertinente e da qualidade do empreendimento.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Paradoxos

Abaixo encontra-se dois trechos do vídeo produzido e dirigido por Aline Fernandes, Daniel Betting e Patricia Moraes. O video documentário "Vila Itororó -- Histórias de Apropriação e Posse", com duração de 45 minutos, conta o drama dos moradores de um cortiço no bairro do Bexiga que está para ser desapropriado e transformado em centro cultural, pela Prefeitura de São Paulo.





A foto é de Kowloo ou "A Cidadela Proibida de Kowloon". Uma das mais curiosas anomalias urbanas da história da humanidade. Destruída em 1993 por decisão mútua da China e Reino Unido, a Cidadela ficava na principal península da cidade de Hong Kong.

A Cidadela de Kowloon possuía, até antes de seu desaparecimento, cerca de 50 000 habitantes distribuídos numa diminuta área de 0,026 km² (densidade populacional de 1 900 000 pessoas por km²). Tratava-se, comprovadamente, do lugar mais denso em população do globo.

Os edifícios começaram a se fundir uns aos outros e milhares de modificações urbanas ocorreram (virtualmente nenhuma foi promovida por engenheiros ou arquitetos) até transformar a cidadela num verdadeiro monolito de alvenaria. Corredores labirínticos (antigas ruas e vielas) percorriam a massa de prédios, muitas vezes saindo do nível do chão e entrando dentro dos prédios em andares superiores.

Em uma declaração conjunta de 1984, a China autorizou as autoridades britânicas a demolir a Cidadela e realojar seus habitantes. A declaração foi reafirmada em 1987, mas só veio a ser executada em 1993.

Um parque municipal foi implantado no local onde antes ficava a Cidadela.



Tire suas conclusões.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Arquiteto mexicano Gabriel Castañeda Nolasco vai discutir habitação de interesse social

A USF (Universidade São Francisco) realizará o 1º Seminário Nacional de História e de Tecnologia da Habitação (SEHTHAB). O evento ocorrerá entre 22 e 24 de outubro, no campus da cidade de Itatiba, em São Paulo, e pretende discutir diferentes alternativas de habitação de interesse social.

O Seminário pretende promover a divulgação de pesquisas científicas e de trabalhos de extensão na área de Habitação de Interesse Social. Favorecer a discussão sobre os projetos de arquitetura e urbanismo propostos, desde o século XIX, para a classe trabalhadora no Brasil e no exterior. Expandir os fóruns de discussão científica no país, de forma a alimentar a propagação de experiências nas áreas de estudos históricos, tecnológicos, projetuais e de financiamento da habitação.

Professor da Universidad de Chiapas é um dos convidados do 1º Seminário Nacional de História e de Tecnologia da Habitação que acontece em Itatiba-SP que terá também a participação dos brasileiros Susana Pasternak, Nabil Bonduki, Maria Lucia Caira Gitahy e João Marcos Lopes. O seminário também contará com representantes da Caixa Econômica Federal e do Ministério das Cidades. Fonte: PINIWeb.

E Beagá?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Desequilíbrio ambiental, cultura local e cultura tecnológica - A parceria entre a Associação dos Moradores do Jardins de Petropolis e o EI

O desequilíbrio hidrogeológico do meio ambiente é um problema real que afeta o território brasileiro da mesma maneira que afeta outras realidades espalhadas no mundo todo. As catástrofes e os prejuízos humanos e materiais, tantas vezes objeto de manchete por parte da mídia, são os efeitos mais evidentes desse problema. Desastres naturais na realidade são o resultado, muitas vezes, da acumulação e da sedimentação do desequilíbrio em conseqüência de ações desarticuladas e equivocadas.
Este processo de evolução do desequilíbrio ambiental é o fruto de posturas e atitudes cujas raízes mais profundam encontram-se na própria cultura das populações afetadas.
A cultura local e as práticas associadas à ocupação, implantação e gestão dos assentamentos humanos são elementos que caracterizam e distinguem cada civilidade. A história nos ensina que essas práticas evoluem lenta e progressivamente e são frutos de ajustes contínuos e pormenorizados. Além do mais as ações de intervenção devem ser feitas em uma escala que possa ser dominada para controlar efeitos não previstos. Exemplo disso é a história de Veneza e da sua laguna, onde, ao longo dos séculos, os venezianos, por questões de sobrevivência, empenharam-se em compreender as características e os processos mais íntimos que regulavam o ecossistema da laguna, ao centro da qual sua cidade estava implantada. Esse conhecimento permitiu-lhes equilibrar esse ecossistema instável por natureza, evitando os cenários finais que seriam de um lado o assoreamento, e isso foi evitado desviando para o mar uma boa parte daqueles rios que desembocavam na laguna e do outro a invasão do mar, que foi evitada implementando engenhosas obras de engenharia hidráulica. Os notórios problemas que a cidade e seus habitantes vivem atualmente são de origem contemporânea e resultado da perda desse conhecimento ao longo dos últimos 200 anos.
No caso brasileiro as práticas associadas à ocupação dos assentamentos humanos remontam ao processo de colonização portuguesa e são marcadas, desde então, por uma importação exógena e acrítica de idéias, conceitos, práticas e tecnologia. Esta postura, que se reproduz para todos os campos do conhecimento, permanece ao longo de toda a história brasileira tornando-se parte integrante de uma cultura dissociada do conhecimento intimo da realidade físico-ambiental. A sustentabilidade ambiental no seu sentido mais amplo passa através desse conhecimento mas, apesar dessa consciência existir, os acontecimentos do dia a dia mostram o quanto a aplicação e implementação desse conceito encontra-se longe de ser uma realidade.
Atualmente não é mais suficiente manifestar-se favorável a um certo tipo de idéias, ocorre tomar atitudes e implementar ações, programas e criar uma cultura através do fazer pragmático. As soluções existem e estão disponíveis. Nunca como hoje é tão fácil ter acesso à informação e ao conhecimento no seu sentido mais amplo, entretanto este conhecimento a disposição não se transformou ainda em melhorias qualitativas do nosso habitat.
O desafio que está lançado é transformar este conhecimento em conhecimento "ativo", implementando, para os nossos problemas, soluções ad-hoc, especificas, peculiares, aptas e adaptadas ao meio ambiente que se pretende equilibrar. Para que seja alcançada esta meta é necessário que esse conhecimento seja alimentado de todas as formas possíveis pelo conhecimento intimo e profundo do ambiente que passa obrigatoriamente pela avaliação do desempenho das soluções aplicadas, isso podendo e devendo significar também correções de rumo e ajustes que se tornam importantes para a consolidação de uma nova cultura ambiental.
A proposta de cooperação tecnológica entre a Associação dos Moradores do Condomínio Jardins de Petropolis e o Escritório de Integração (EI) do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais está imbuída desse espirito: a partir dos problemas identificados elaborar um estudo integrado sobre as origens, as manifestações para a busca de soluções ambientalmente compatíveis e de baixo impactos.
O EI trabalha nessas questões há algum tempo possuindo a linha de pesquisa "desenvolvimento tecnológico de soluções de mesoestrutura de baixo impacto ambiental" e trabalhando em atividades e propostas de reabilitação físico-ambiental de áreas degradadas.
A proposta de parceria com a Associação dos moradores do Jardins de Petropolis é o desenvolvimento de uma intervenção em um trecho piloto para que possam serem redefinidas as práticas de manejo e gestão do recurso água de tal maneira que possam serem ajustadas e aplicadas em todas as microbacias conformadoras da área, para além dos próprios limites administrativos.
Objetivo final é buscar soluções locais para resolver os problemas existentes e implementar uma nova postura onde a água passa a ser um elemento com o qual cada morador possa conviver, e bem, no seu dia a dia. Em quanto proposta, implica na aplicação e no desenvolvimento tecnológico de soluções de mesoestrutura ajustadas dinamicamente ás peculiaridades locais com avaliação de desempenho, adequações e correções sucessivas, para que a intervenção nos Jardins de Petrópolis seja um exemplo de aplicação do conceito de sustentabilidade e um modelo de reequilibro ambiental.
Alfio Conti – Arquiteto, Urbanista e Planejador Territorial

"Tem casa de sobra em Minas Gerais"

Essa é a manchete vinculada no jornal Estado de Minas de hoje, ainda não disponível na web.

A matéria informa acerca de uma pesquisa feita pela Fundação João Pinheiro. A pesquisa constatou que o déficit habitacional de Minas Gerais é de 721.117 do total de domicílios. Enquanto isso, o número de domicílios vagos é de 748.906.

Maria Bernadette Araújo, coordenadora da pesquisa, observa que "em números absolutos, a falta de moradia está crescendo (em comparação com os dados de 2000). Mas o percentual em relação ao total cai, em função do crescimento expressivo da população."

Segundo a matéria, "famílias com renda de até R$ 1245,00 são as que mais sofrem com o problema".

Essa pesquisa é norteadora de Políticas Públicas.

O Alfio Conti tem mais propriedade para comentar essa notícia. 

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sistemas de troca

Uma alternativa sustentável que pode ser utilizada não só em contas de luz, mas para atender as necessidades dos cidadãos. E não precisa ser somente garrafas PET, latas de alumínio e papéis.

Esse sistema de trocas podem ser utilizados nos PGE, por exemplo. Será que não?

Veja o vídeo com as experiências no Brasil e no mundo: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM668232-7823-SISTEMAS+DE+TROCA,00.html

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Frestas



Por que não popularizar? Não foi dessa vez que viabilizamos moradias nos baixios dos viadutos, mas em outras frestas, quem sabe?

O projeto acima é de Pieter Peerlings e Silvia Mertens.

sábado, 4 de outubro de 2008

Emergia e a Arquitetura Sustentável


Semana passada aconteceu a INOVATEC e o Escritório de Integração apresentou para a PUC os projetos ligados ao meio ambiente. O Alfio depois pode falar mais sobre isso tudo.

Pegando a esteira do meio ambiente, lanço a provocação a seguir.

Um colega de mestrado está trabalhando a aplicação da emergia no setor hoteleiro. Segundo ele, emergia é, grosso modo, a medida do impacto ambiental na produção de um produto até seu consumo.

Emergia segundo Odum (Emergy Evaluation, in "Advances in Energy Studies: Energy Flows in Ecology and Economy")

"É toda energia necessária para um ecossistema produzir um recurso (energia, material, serviço da natureza, serviço humano).

É utilizado como sinônimo de energia incorporada" ou também de "memória energética"".


O índice de emergia de um sistema pode ser calculado para avaliar a real sustentabilidade deste meio. A ciência econômica não consegue estimar, por exemplo, os recursos energéticos da biosfera. Então é necessário mensurar com abordagens ecológicas e energéticas para que compreenda-se a real economia do planeta.

Pelo que entendi, na arquitetura, a emergia poderia ser usada para saber a sustentabilidade de um edifício, calculando o impacto da fabricação e utilização de todos os materiais empregados na obra, bem como a mão-de-obra.

No Brasil a referência é o Enrique Ortega da UNICAMP e o Mauri Fortes da UNA e ECOLATINA.

Acho que essa pode ser uma frente que a arquitetura pode e deve se enveredar.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Os candidatos à prefeitura de Belo Horizonte e as propostas para a Politica Habitacional Municipal.

Propostas em ordem de numeração partidária:

12 Candidato Sergio Miranda
Plano de governo em PDF presente no site do candidato

" – rever o Plano Diretor e promover sua adaptação aos parâmetros do Estatuto da Cidade;

– incorporar ao Plano Diretor os instrumentos de democratização da vida urbana, regularização fundiária e justiça tributária contidos na Lei de Uso e Ocupação do Solo;

– atualizar a planta de valores que serve de base para o cálculo do IPTU, visando à justiça tributária e ao benefício da população;

– urbanizar as vilas e aglomerados urbanos por meio de uma política e um plano integrados ao PEDI;

– criar o Fundo de Urbanização de Vilas e Favelas, com dotação orçamentária referente a 2% da receita do Município;

– aumentar os recursos públicos para o Fundo Municipal de Habitação;

– negociar com as instituições de crédito, especialmente a CEF, condições mais favoráveis de financiamento para moradias;

– implementar o Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, incorporando ao PEDI a meta de eliminar o déficit residencial, promovendo a construção de casas populares com a participação
dos sem-teto e mobilizando recursos junto aos governos federal e estadual;

– ampliar os serviços públicos de arquitetura e engenharia já existentes, estendendo-os gratuitamente a toda a população de baixa renda, de modo a garantir a elaboração universal de plantas e a racionalização dos recursos materiais para efetivar construções seguras
e econômicas;

– implantar uma assessoria técnica para o movimento comunitário, abarcando documentação, prestação de contas, regularização fundiária e outros serviços;

– revitalizar os bairros e áreas mais propícias ao entretenimento, especialmente o complexo da Pampulha, visando a torná-lo um pólo dinâmico baseado na aptidão para a cultura, o turismo, o
lazer e o esporte, mas preservando o perfil arquitetônico da orla."

15 Candidato Leonardo Quintão
Material achado no site do candidato:
"Ações-Metas:

- Promover a regularização imobiliária em convênio com o CREA, sem ônus para os proprietários, passando para a legalidade cerca de 70% dos imóveis da cidade que são irregulares;

- Manter todos os programas que visem à proteção daqueles que vivem em áreas de risco, como o “Vila Vivo” e outros;"

Outro material em outra página:
"Programas que serão mantidos e melhorados.

- Vila Viva

- Orçamento Participativo

..."

16 Candidata Vanessa Portugal
de trecho de entrevista
" Nós entendemos que quem recebe até três salários mínimos não tem condição de pagar IPTU, de pagar taxas de luz de água, por exemplo. Tem que ser isentos a esses impostos. Na verdade não ganham salário suficiente para sua sobrevivência. Essa é uma das nossas prioridades. E a partir dos recursos levantados com essa inversão, com a cobrança de impostos dessas grandes empresas, ter um plano de obras públicas que ataque duas frentes, a necessidade que a cidade tem de obras para a habitação, de urbanização, de construção de postos de saúde, e da expansão da rede escolar, principalmente da infantil. Ela além de suprir essas necessidades básicas também ataca o problema de Belo Horizonte que é o desemprego. Porque isso geraria uma grande frente de emprego em diferentes setores."
(O negrito é nosso e se justifica por estar dentro de uma resposta que atende a outras questões além da questão habitacional)

25 Candidato Gustavo Valadares
O candidato não tem propostas especificas, ou não foram encontradas em pesquisa na internet utilizando o motor de pesquisa Google e a chave "Gustavo Valadares Habitação", e "Gustavo Valadares Prefeito Belo Horizonte Habitação"

28 Candidato Jorge Periquito
O site do candidato tem uma janela de pesquisa, consultada à voz "habitação" a resposta foi; "nenhum registro encontrado!"

29 Candidato Pedro Paulo
O candidato não tem propostas especificas, ou não foram encontradas em pesquisa na internet utilizando o motor de pesquisa Google e a chave "candidato pedro paulo PCO BH habitação"

40 Cadidato Marcio Lacerda
Plano de governo em PDF no site do candidato
"Programa de Governo da Aliança por BH tem as seguintes propostas para uma Cidade com todas as Vilas Vivas:

Construir dez mil novas moradias para vilas e favelas por meio do Orçamento Participativo da Habitação, Orçamento Participativo Regional, Programa Estruturante de Áreas de Risco, PAC/Vila Viva e reassentamento das famílias atendidas pelo Programa Bolsa Moradia.

Expandir o Programa Vila Viva com o objetivo de atingir, durante os próximos quatro anos, 35% dos moradores de vilas e favelas de Belo Horizonte. Acabar com as áreas de alto risco durante os próximos quatro anos a partir de ação conjunta com o governo do Estado, utilizando unidades habitacionais construídas pela Cohab-MG para o reassentamento da população removida de
áreas de risco.

Promover a regularização de todas as unidades habitacionais produzidas desde
1993 e a regularização de 15 mil domicílios em vilas e favelas."

65 Candidata Jô Moraes
Plano de governo em PDF no site do candidato

- Legislação - Aprimorar a legislação urbanistica da cidade, incorporando e regulamentando os instrumentos que viabilizam o cumprimento da função social da propriedade urbana previstos no Estatuto da Cidade, especialmente no que se refere às Zeis 2 que delimitam áreas destinadas à moradia popular, de acordo com as diretrizes propostas pela Conferencia Municipal de Política Urbana.

- Sistema Municipal de Habitação - Aperfeiçoar e articular o Sistema Municipal de Habitação, responsável pela gestão da política habitacional do Município, ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social.

- Conselho Municipal de Habitação - Fortalecer o Conselho Muncipal de Habitação e as outras formas de participação popular nos programas da Política Habitacional.

- Parcerias - Estabelecer percerias com as universidades para estudo de novas tecnologias na área da construção civil e reunir as experiências esistentes que contribuem para o desenvolvimento sustentável e a inclusão social e territorial.

- Projetos - Fortalecer a área de projetos paa ampliar a capacidade de captação de recuros s junto a outras esferas de governo.

- Isenção IPTU - Ampliara a insenção do IPTU para imóveis com valor venal de até R$ 50 mil."

Contribuições são BEM-VINDAS!
Abraços.
Alfio Conti

Um e-mail, um trabalho, uma foto e algumas lembranças.



Amigos recedi e-mail do "Boletim do Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare/Finep)" falando do Programa de Tecnologia da Habitação, no texto menciona-se várias iniciativas, entre as quais assinalamos aquela do grupo de pesquisa MOM (Morar de Outras Maneiras, da UFMG)que
" com apoio da Finep investe na concepção e implementação de uma “wikipedia” da construção. A proposta é que o banco de dados seja consultado e alimentado por arquitetos, engenheiros, construtores e outros profissionais envolvidos com a produção de moradias."
Acho esta uma inciativa muito boa pelo fato que visa sedimentar este conhecimento que costuma-se perder, ou esquecer, ainda porque a habitação popular sofre o fato de estar nas mãos do poder público e das administrações locais que obtem sucesso, a principio, veja o caso de Belo Horizonte, se conseguem se manter no poder.
No caso especifico de Belo Horizonte, a experiência habitacional que surgiu no amago da redemocratização sofreu do esclerosamento que é proprio da manutenção do poder, sem gerar um aprimoramento de suas atuações, mas a manutenção de um produto controlado em razão da perpetuação do "status quo" instituido.
Mas voltando ao e-mail que recebi nele havia uma parte que remetia a outras pesquisas e, em uma analise epidermica o que me chamou atenção foi esta noticia e mais do que a noticia a imagem a ela associada.
Por começar coloco a noticia:
"Habitação: Rede de pesquisa avalia empreendimentos populares em cinco estados. Um dos desafios assumidos pelas instituições é o desenvolvimento e a avaliação de novos componentes e sistemas construtivos focados nas necessidades regionais. Os estudos são focados tanto em obras novas como na recuperação de moradias", e a foto em questão era esta que está postada no canto alto a esquerda.
Coloco o link da noticia http://www.habitare.org.br/ConteudoGet.aspx?CD_CONTEUDO=498
na qual voces poderão ver que a foto não te nada a ver com os estudos de caso escolhidos pois trata-se do conjunto Residencial Asca chamado também de Urucuia localizado no Barreiro de Cima em Belo Horizonte no bairro Cardoso.
Para que quisesse localizar este conjunto com o Google Earth as coordenadas são:
20º00'32.96" Sul 44º0031'.18" Oeste
A não ser que a USP, já que, como afirmado na noticia, trata-se da única universidade que irá estudar empreendimentos em autogestão, utilize este empreendimento como estudo de caso, é bem provável que a foto publicada do Residencial Asca tenha chamado atenção pelas cores das edificações.
Aproveito portanto para lembrar que o Residencial Asca foi um conjunto habitacional no qual se utilizou a autogestão plena dentro da política habitacional municipal e que foi concluido em 2000.
Recebeu o premio de Gentileza Urbana 2000 e teve como Assessoria Técnica a "Schmidt Arquitetura e Urbanismo" com a participação da Leta e minha como técnico controlador da qualidade. Foram construídas 202 unidades com duas tipologias e as "economias invisíveis" como afirma Nabil Bonduki, possíveis em empreendimentos com este tipo de gestão, permitiram a complementação de boa parte das infraestruturas existentes, principalmente pavimentação das vias de pedestres, escadas de acesso ás moradias, redes de drenagem urbana, além de duas casas e das obras de dois espaços coletivos.
Abraços.
Alfio

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Os limites e os riscos da Assistencia Técnica Gratuita


Caro Marco também acho que com a assessoria técnica, ou assistência técnica gratuita (usarei as duas definições como sinônimos), se resolve somente uma parte do problema, a outra está ligada justamente à (in)capacidade técnico-construtiva da mão de obra presentes nestes lugares. Diria, mesmo correndo o risco de ser banal, que se a mão de obra existente, moradora destes lugares, fosse além de ser capaz, pois o espaço que ela constrói é um espaço que atende às necessidades delas, capacitada, além de construir um espaço tecnologicamente melhor, já teria conseguido emprego no setor da construção civil, pois hoje em dia é o setor que mais está à procura de mão de obra, sem, entretanto, conseguir satisfazer sua demanda.
Portanto, a meu ver, há de se associar sim, à assistência técnica, um programa de capacitação e formação de mão de obra, para que os moradores possam construir um espaço menos precário e mais econômico. Mais econômico pois o espaço construído das vilas e favela é extremamente caro do ponto de vista financeiro e social. Do ponto de vista financeiro por causa do processo de autoconstrução que se pauta em cima de um conhecimento pragmático que ainda não consolidou procedimentos e soluções tradicionais de construção afinadas e adaptadas ás condições ambientais do lugar (e é muito provável que isso nunca vai acontecer), resultando na adoção de soluções dispendiosas, oriundas da cultura construtiva que permeia nossa sociedade. Para dar um exemplo baste notar a profusão do uso do concreto armado para situações onde este poderia ser dispensado.
Do ponto de vista social porque, se os preciosos e parcos recursos utilizados para a construção fossem empregados utilizando soluções tecnológico-construtivas apropriadas, poderiam parte deles serem utilizados para outros fins, quem sabe até para o lazer e a educação.
Voltando ao programa de capacitação acho que deveriam ser procurados parceiros para fazer isso. Nós do Escritório de Integração podemos ser um deles já que fazemos isso a muito tempo, e uma universidade seria que pensasse à extensão como uma fonte de investimento na formação profissional dos seus alunos, poderia encarar isso com muita tranqüilidade.
Existe também um risco que a proposta da assessoria técnica gratuita levanta, assim como está formulada e que pode levar ao seu total fracasso. Para evitar que isso possa acontecer acho que deveria se investir mais na sua concepção respondendo às demandas: que tipo de assessoria técnica é essa e aonde utiliza-la? A ideia que permeia o meio institucional que promove esta proposta (que diga-se de passagem já constitui um avanço) é que o atendimento deva-se dar de maneira pontual, assim a ideia seria aquela de um banco de atendimento e é aqui que está o risco especialmente se isso for pensado para os assentamentos informais existentes nas grandes cidade. Se o objetivo é a melhoria também destes espaços como um todo, a utilização de atendimentos individuais e pulverizados, não irá trazer os beneficios esperados, mas muitas insatisfação, pois a abordagem, para ações de melhoria destes locais, deve ser de tipo sistêmico, para além da moradia incorporando a melhoria dos precários sistemas de mesoestruturas existentes (pavimentação, saneamento básico, etc.). Se a proposta continuar a se limitar à habitação estará fadada ao desastre. Pela conformação deste espaço, ainda tão incompreendido, vejam as soluções de intervenção adotadas pelo programa Vila Viva em Belo Horizonte que resolve derrubar o tecido existente e propor tipologias habitacionais alheias à experiencia de morar de quem vive na favela, são necessárias ações integradas e sistêmicas. Infelizmente a complexidade do espaço (no seu sentido mais amplo fisco, social e cultural) da favela ainda não é suficientemente objeto de analise, ou ainda a abordagem utilizada para sua compreensão é equivocada de tal maneira a propor soluções de intervenções que irão inevitavelmente se perder. Estou me delongando muito, mas esta ultima parte explica porque o Escritório de Integração tanto criticou a proposta institucional da Arquitetura e Engenharia Pública, pois esta concebia o mesmo tipo de intervenções que estão previstas na assistência técnica gratuita. Acho que uma proposta dessa pode valer para certas periferias onde há a individualização da propriedade e onde existem mesoestruturas que funcionam, penso principalmente as periferias das cidades médias, mas para os assentamentos informais das grande cidades e das metrópoles ela deve ser necessariamente repensada, ao não ser que se pretenda trabalhar unicamente com o espaço do morar individual, esquecendo, ou não querendo ver que este compõe um espaço maior, enfim, esquecendo, ou não querendo ver que existe uma cidade.
Alfio Conti

Autoconstrução poderá receber assistência técnica gratuita

"O mercado de trabalho para engenheiros civis, arquitetos e urbanistas pode se ampliar para um novo nicho: o de assistência técnica às famílias de baixa renda. A Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) aprovou Projeto de Lei que assegura assistência técnica pública e gratuita a habitações de interesse social. Os serviços de engenharia e arquitetura contratados pelo poder público incluiriam a construção de novas residências, reformas, ampliações ou regularizações fundiárias.

O presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), Carlos Roberto Bittencourt, aponta que a população ganhará qualidade e segurança em suas habitações e, indiretamente, valorizará os profissionais. Marcos Túlio de Melo, presidente do Confea, também concorda que o projeto representa uma forma de valorização dos profissionais. "Será uma oportunidade de mostrar para a sociedade o quanto representa a engenharia para o desenvolvimento e a organização das cidades e para a preservação do meio ambiente", finaliza." Fonte: Revista AU

E quem irá qualificar a mão-de-obra para trabalhar nesses projetos?

domingo, 28 de setembro de 2008

FAVELA: ANÁLISE CRÍTICO-PROPOSITIVA DAS ABORDAGENS EXISTENTES

Amigos,
às vesperas das eleições municipais e com as "obras" do Programa Vila Viva, financiadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento, andando "a todo vapor", cabe refletirmos um pouco para entender o que a Favela é, como é vista, analisada, compreendida por estes atores que estão hoje em dia transformando-a em muitos casos radicalmente.
Quais as transformações previstas, e o porque destas transformações, são chaves importantes para avançarmos na compreensão destes espaços que são parte integrantes e estruturais da nossa cidade.
Partindo do pressuposto que a visão tradicional sobre este espaços resultou na elaboração de propostas de intervenção que foram incorporadas a estes espaços so do ponto de vista formal e não substancial, sugerimos a leitura do artigo em anexo com a intenção de provocar uma discussão e uma reflexão a respeito.
Abraços.
Alfio Conti

Favela: análise crítico-propositiva das abordagens existentes

Favela: analyzed criticized deliberate from the approach existing


Autor: Alfio Conti[1]
Abstract
The article intends to find, trough a critical analysis of the existing approaches used for the study and the comprehension of the slum, those that guarantees, apart from an extensive and multidiscipline geographical view, viability in terms of operationality.
The text is divided into three parts. The first one fulfills a criticism of the classical-radical approach, showing its limits and contradictions; the second part analyzes the other existing approaches, considered as alternatives, evaluating its potentialities; the third and last part, divided into two sections, wants to find, in the approach developed by Malard, the elements and the ways to define an alternative proposal, extensive and complete, which is able to substitute the radical approach, whether in analytical terms or in operative terms.
Keywords: favela, radical-geographical approach, phenomenology.


Resumo
O artigo propõe-se a encontrar, através de uma análise crítica das abordagens existentes utilizadas para o estudo e a compreensão da favela, aquela que garanta, além de uma visão geográfica abrangente e multidisciplinar, uma viabilidade em termos de operacionalidade.
O texto divide-se em três partes. A primeira parte desempenha uma crítica à abordagem clássica-radical, mostrando seus limites e contradições; a segunda parte analisa as outras abordagens existentes, consideradas como alternativas, avaliando suas potencialidades; a terceira e última parte, dividida em duas seções, busca encontrar, na abordagem desenvolvida por Malard, os elementos e os caminhos para definir uma proposta alternativa, abrangente e integrada que seja capaz de substituir a abordagem radical, quer em termos analíticos quer em termos operativos.
Palavras-chave: favela, abordagem crítica radical, fenomenologia.

1 Breve retrospecto crítico
Parece supérfluo dizer que contar a história das favelas é contar uma parte importante da história das nossas cidades. Essa frase, entretanto, até há poucas décadas poderia criar sérios constrangimentos para quem ousasse pronunciá-la.
Por trás dessa afirmação está o fato de que a favela, atualmente, não é mais considerada um subproduto casual e aleatório do processo de urbanização brasileiro, mas um fenômeno cujas conotações se encontram estritamente relacionadas ao conjunto de modificações ocorridas recentemente, em uma pluralidade de escalas e âmbitos, na nossa sociedade e no mundo como um todo[2].
A produção acadêmica a respeito dos resultados dessas modificações é vasta e está em contínua ampliação. O debate encontra-se aberto, apesar de o foco da atenção estar concentrado nos efeitos dos processos nos países centrais.
O debate no que diz respeito às conseqüências desses processos no Brasil é dominado pelas análises produzidas pelos centros consolidados de pesquisa, os mesmos que dominam o debate no nível mundial e que acabam reservando, para essas questões, uma atenção e um espaço pautados e mantidos vivos, em boa parte, a partir da demanda de formação acadêmica que vem de parte da intelectualidade oriunda dos países onde esses fenômenos acontecem.
Essa situação complica-se quando se observa que a orientação das instituições de fomento e ajuda internacional continua sendo influenciada por esses mesmos centros de pesquisa mencionados acima, pautada nos resultados das atividades neles desenvolvidas por alguns poucos interessados. Estes últimos, para poder atender o objetivo de nortear, através da produção de conhecimento, as atividades das agências de fomento, acabam cobrindo um conjunto da realidade cuja complexidade requer uma capacidade de síntese além das capacidades de qualquer cientista ou de qualquer grupo de trabalho. Afinal, o resultado desse trabalho é, na melhor das hipóteses, uma visão distorcida e sempre marcada por parcialidade e generalismo em razão do grau de subjetividade imposto por interesses e pontos de vista do próprio estudioso e pela orientação ideológico-política do próprio centro de pesquisa. O mais grave é que essa postura repete-se ao longo de toda a cadeia da produção do conhecimento que une centros internacionais de pesquisa, agências de fomento e agentes locais de desenvolvimento.
Os danos maiores acontecem quando se observa que, para poder aspirar a alcançar as fontes de financiamento das agências internacionais, as poucas agências locais empenhadas no desenvolvimento de práticas alternativas de intervenção, ao buscar um certo grau de autonomia intelectual e um diferencial a partir da constatação dos parcos resultados atingidos até hoje, têm de se submeter à adoção de uma visão oficial já definida e sacramentada.
A influência na determinação de uma visão oficial do que seja "favela" é muito forte. Por visão oficial entende-se aquela que contribui para que sejam definidas, elaboradas e implementadas políticas específicas para atingir certos objetivos, ao invés de outros, por parte dos organismos de financiamento internacional, principalmente do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, do Banco Mundial – WB e da United Nation Conference for Human Settlements – UNCHS.
Pugh (2001), no seu trabalho "The theory and practice of housing sector development for developing countries: 1950-99", revela como e de que maneira a visão oficial evoluiu e mudou ao longo dos 50 anos de existência das políticas de ajuda internacional.
A existência de uma visão oficial justifica-se a partir da incapacidade por parte da maioria das nações subdesenvolvidas, uma parte considerável das quais tinha conquistado há pouco sua independência[3], de responder, de maneira adequada, aos seus vários problemas internos, dentre os quais se destaca a amenização dos efeitos da explosão demográfico-urbana das cidades-capitais em razão de um forte êxodo rural-urbano.
Essa visão tem mudado ao longo dos anos e tem acontecido em razão de fenômenos exógenos e marcadamente por ajustes de natureza econômico-política e ideológica na escala planetária, que produziram duas conseqüências determinantes, ambas resultado da necessidade de dominar essas questões:
• adoção de uma perspectiva determinista em relação aos processos ocorrentes;
• homogeneização e uniformização planetária das análises desses fenômenos.
Resultado dessa postura foi a colocação em segundo lugar, frente à necessidade de buscar respostas em tempo rápido, da compreensão das especificidades e das verdadeiras essências dos fenômenos, entre os quais estão as favelas. As práticas desempenhadas nesses lugares pela população moradora e o resultado dessas práticas em termos de produção do espaço foram por longo tempo ignoradas.
Atualmente, essa postura, apesar de estar ainda presente, é colocada cada vez mais em discussão, especialmente por parte de quem acredita que o conhecimento e o estudo desses lugares sejam uma etapa obrigatória para a compreensão de uma realidade que transcende a dimensão desses fenômenos, incidentes nas sociedades como um todo.
Esse enfoque pode ampliar a compreensão dos fenômenos, já que possibilita o envolvimento de um número maior de agentes, potencializando os recursos (humanos e físicos) à disposição, tanto no sentido horizontal, colocando no mesmo plano de discussão agentes que historicamente tiveram poucos contatos nesse sentido, quanto no sentido vertical, viabilizando uma postura propositiva também por parte dos agentes locais[4].
A concretização desse cenário pode possibilitar a refutação da hipótese — não comprovada, mas plausível — de que a situação existente, em vista do alcance limitado dos resultados obtidos pelas variadas políticas produzidas ao longo de quase quarenta anos de atividade, seja fruto da adoção intencional de um olhar desviado para com esse fenômeno, dentro do objetivo oculto de impossibilitar a realização de um conhecimento que possa chegar à compreensão da íntima essência desses lugares, chancelando, desse modo, o conhecimento epidérmico como o único possível e sacramentando a adoção de manifestações e feições desse fenômeno enquanto mero elemento recorrente e casual na paisagem urbana.
Essa adoção tradicionalmente absorve e transpõe elementos da favela para o resto da cidade e vice-versa, através de um processo de osmose e graças às variações de pressão, em parte fomentadas por programas e políticas públicas. Quando ocorre, essa adoção é a manifestação de uma intencionalidade ambígua, desviada e hipócrita, que não permite outra coisa senão a produção de um conhecimento que objetiva a não solução do problema. O problema não resolvido e sua permanência servem de consagração ao fazer hipócrita que, concretizando um paradoxo, perpetua a adoção de uma única pauta metodológica e investigativa para com esse lugar, na crença dogmática de que o caminho seja um e um só.
Mas esse dogma parece estar com os dias contados, porque se fazem ouvir, cada vez mais e cada vez com mais força, vozes destoantes. Primeira porta-voz dessas críticas, Berenstein (2003, p.14) foi capaz de afirmar que "frente a esta complexidade não é possível definir uma única pauta que resulte em um modelo universal de atuação. Ou seja, não é possível propor um modelo de soluções que seja universalmente reproduzível". Como conseqüência dessa assertiva, pode-se entender que também não é possível propor ferramentas, metodologias e modelos cognitivos e de análise universalmente reproduzíveis.

1.1 Abordagem convencional
A partir dos indícios da existência da produção de um conhecimento que poderia ser chamado de improdutivo, cabe refletir a respeito do seu grau de intencionalidade, enfim, do seu grau de hipocrisia.
Há evidências de que, se a intencionalidade realmente existir — e tudo indica que sim —, ela não apresenta as conotações de uma estratégia oculta, não se tratando portanto de um cálculo objetivo e frio. Parece mais plausível enxergar o conhecimento improdutivo como um dos efeitos produzidos pela já mencionada pressão de osmose que existe entre os grupos sociais e que é uma das características da nossa sociedade. A sociedade brasileira contemporânea encontra-se hoje ainda fortemente segmentada, sendo herdeira de uma postura que fomenta essa segmentação e que se respalda em âmbitos diferentes:
• nacional e local, como resultado de uma postura histórica de incompreensão entre os componentes sociais e de suas manifestações em todos os sentidos, com a exclusão recíproca como conseqüência;
• supranacional, regional e mundial, com a aplicação de modelos e parâmetros alheios às realidades existentes.
Essa postura permeia, nos âmbitos mencionados acima, tanto o pensamento das academias quanto o fazer administrativo e político, ambos reflexos de uma lógica em cascata, imposta hierárquica e autoritariamente, da qual poucos conseguem escapar.
Os dados do último censo de 2000 (FJP, 2002), corroborados por dados locais produzidos por várias instituições (CEDEPLAR, 2004), indicam que a favela, ao invés de desaparecer, ao invés de ser absorvida pela cidade, consolidou-se e alastrou-se quase que livremente, transformando tanto suas feições mais evidentes, de natureza físico-urbanística e arquitetônica, quanto aquelas mais escondidas, de natureza econômica, sociológica e cultural.
Trata-se de mais uma evidência da incapacidade por parte da visão oficial, nas suas vertentes analítica e propositiva, de nortear esse processo, admitindo sua defasagem com a realidade.
De fato, o que corrobora a visão oficial é a maneira de descrevê-la, feita quase que exclusivamente através do olhar proposto pela geografia radical, olhar este que influencia o conhecimento, as atitudes, as posturas e as tomadas de decisão. Não se pretende, nesse contexto, diminuir a importância dessa abordagem, que está, e esteve, na capacidade de problematização histórica do fenômeno, colocando o estudo da favela como uma questão a ser enfrentada e debatida dentro de uma pauta de discussão mais ampla. O que se coloca é a crítica a um tipo de abordagem que, se por um lado permitiu o nascimento de uma dialética discursiva sobre essas questões, por outro hegemonizou o diálogo, cristalizando-o progressivamente, de maneira a abaixar e inibir as capacidades de compreensão, conhecimento e proposta.
A hegemonização do discurso, obtida ao longo dos anos, é conseqüência da incapacidade da abordagem radical para requalificar, flexibilizar e atualizar seus argumentos em consonância com as mudanças globais, e isso resulta, agora, em uma hegemonização que acabou sendo mascarada pela incorporação instrumental de temas atuais como, por exemplo, a questão do meio ambiente.
A abordagem radical teve, em um primeiro momento, repercussão e resultados positivos, na medida em que tornou possível, pela sua aplicabilidade em todas as escalas, o estudo da favela com recortes analíticos e metodológicos que favoreceram a adoção de um instrumental de análise e de intervenção; por sua vez, esse instrumental possibilitou, a partir de pressupostos teóricos assumidos incondicionalmente, a implementação de ações em escala local. Entretanto, o foco da análise, retido e amarrado na assertiva incondicional de que o fenômeno favela é única e exclusivamente o produto de um processo de exclusão (social, espacial, econômica e política) de uma parte da população urbana brasileira operado por uma ação conjunta entre Estado e capital pautada na extremização do processo de produção de lucros e dos ganhos do capital, acabou determinando um leque de propostas que nunca atingiriam os resultados desejados e que, ao contrário, se apresentaram como um conjunto de práticas inconcludentes ou com resultados de curta duração.
Afinal, por mais que isso possa parecer paradoxal, a abordagem radical acabou por se transformar em mais uma esperta estratégia de manutenção do status quo, articulada por parte do capital e de seus representantes institucionais dentro das instâncias políticas e decisionais nos três âmbitos de governo.
A questão mais crítica na abordagem radical está na vinculação entre a dimensão global e a dimensão local, especialmente no que diz respeito à relação entre análises, propostas e objetivos construídos a partir da escala global e ações e práticas desenvolvidas na escala local que, fortemente condicionadas pelos primeiros, acabam não conseguindo operacionalizar a implementação dos objetivos propostos.
Essa defasagem pode ser imputada tanto à falta das adequações de escala necessárias à passagem do global para o local quanto à unidirecionalidade (global-local) dessa passagem, não existindo uma alimentação no sentido contrário (local-global).
As tentativas relacionadas à escala local, tanto no campo do conhecimento em si, quanto no campo das metodologias e propostas, acabaram se transformando em atividades pontuais de curto alcance devido à falta de uma amarração estratégica mais abrangente, que não existe de fato e que deveria ser comandada por uma instância de alcance nacional.
A falta dessa estratégia acabou condicionando as tentativas de tal maneira, que é quase impossível encontrar exemplos de articulação de propostas de análise e estudo dentro de uma ordem mais abrangente[5]. Se isso acontecesse, seria possível viabilizar a integração da produção de conhecimento e das propostas dentro de um quadro definidor de políticas públicas capazes de alterar significativa e positivamente essas realidades.
Infelizmente a prática recorrente é outra, e o discurso oficial ainda se sustenta em velhos argumentos, adotando, de maneira instrumental e dentro de um marco teórico dado a priori, outras questões e temáticas.
A carência de infra-estruturas e moradias dignas gera impactos sobre o meio ambiente e, em particular, sobre a qualidade de vida da população. No caso específico dos assentamentos peri-urbanos, a chamada cidade informal tem sido espaço não apenas de concentração de pobreza, mas também de poluição dos solos e cursos d'água, desestabilização dos terrenos e assoreamentos, além da proliferação de vetores de doenças. [...]
Os processos econômicos geradores de concentração de renda, desemprego e pobreza são formadores dessa cultura de exclusão. As massas despossuídas estão fora do mercado e, portanto, sem condições de acesso aos bens e serviços necessários à vida. São portanto sobreviventes numa sociedade onde ser pobre é como ter doença contagiosa.
A cultura da exclusão reflete-se no preconceito contra as populações faveladas. Os excluídos são vistos como marginais e violentos, bandidos do asfalto (BRETAS, 1995, p. 133).
Trata-se então da concretização de uma postura que desconhece que "os lugares não são simples 'acidentes' para o homem, mas correspondem antes ao seu ideário fundamental, e a partir deles é que se elaboram as diferentes geometrias ou topologias criadoras do espaço" (MONTEIRO, 1984, p. 24).

2 Abordagens não convencionais
A questão referente à vinculação global/local, apontada na seção anterior, pode ser transposta, obtendo-se os mesmos resultados, para a questão da análise histórica do fenômeno favela. É raro encontrar um trabalho acadêmico que aborde essa questão de maneira abrangente e exaustiva e que busque mencionar, além de sua localização e existência, suas relações com a evolução do processo de urbanização e com as lutas políticas da comunidade. Nesse panorama desolador, destacam-se, entre outros, o trabalho de Valladares (2000) sobre as favelas da cidade do Rio de Janeiro e o de Guimarães (1991) sobre as ocupações informais em Belo Horizonte.
No panorama dos estudos sobre vilas e favelas falta uma análise abrangente e exaustiva que seja capaz de interceptar, ao longo da história urbana, não somente as questões referentes à ampliação e à consolidação do processo de exclusão social, econômica e espacial dessas populações, mas também a evolução das questões de caráter geográfico, urbanístico, arquitetônico, sociológico, econômico, ideológico e cultural desses lugares.
A favela, não obstante alguns indiscutíveis avanços, continua sendo abordada por trabalhos de natureza pontual, que acabam retalhando sua história em inúmeras histórias cuja única finalidade é atender a necessidade da contextualização de inúmeros estudos de caso.
Trata-se de uma lacuna grave, sintoma e reflexo de uma maneira superficial e preconceituosamente estereotipada de operar nessas realidades, que pode e deve ser preenchida urgentemente. Essa urgência justifica-se pelo progressivo e natural desaparecimento dos registros originais desses lugares, em razão de sua própria evolução, e pela falta de uma produção acadêmica que possa servir, de um lado, para arquivar esses registros de uma vez por todas — nesse sentido, Sauer (1998, p. 20) lembra-nos que "o elemento tempo está admitidamente presente na associação dos fatos geográficos que são, por conseqüência, em grande parte não recorrentes" — e, do outro, para o reconhecimento efetivo da favela como digna de atenção frente ao restante da cidade, desvendando seu verdadeiro papel na conformação da cidade brasileira e na caracterização de suas especificidades e unicidades.
A variada realidade das cidades brasileiras traz, em seu conjunto de histórias urbanas, casos emblemáticos que resgatam as favelas enquanto espaço urbano estratégico e dinâmico de tal maneira, que suas mutações, sincrônicas e diacrônicas, são respaldas por processos de natureza e ordem complexas, via de regra ignorados em termos de causas e efeitos, a não ser quando suas manifestações mais extremas chegam a afetar a ordem pública.
Para tentar trazer um pouco de luz a respeito do estado da compreensão desse fenômeno, parte-se do pressuposto de que é necessário conhecer o conjunto das abordagens existentes, especialmente aquelas que pretendem buscar caminhos alternativos em prol do afastamento dos tão recorrentes estereótipos. Para viabilizar esse objetivo, mas sem a pretensão de ser exaustivo, pretende-se começar pela abordagem radical, a qual, como já foi dito, enxerga a favela como um espaço social e econômico, a maior parte do qual constituído fora dos circuitos formais de produção do capitalismo contemporâneo, mas ao qual sempre se remete e que por isso, a partir das especificidades do capitalismo periférico de matriz brasileira, desempenha o papel estratégico de amortecedor das instâncias capitalistas oficiais (SANTOS, 1979).
As críticas à abordagem radical já foram colocadas. Cabe entretanto lembrar que não se descarta esse tipo de visão; pelo contrário, ela é aceita, assim como também o são as que serão tratadas em seguida.

2.1 Abordagem cultural
A abordagem cultural é relativamente recente e tem o mérito de introduzir uma alternativa de estudo e análise até então deixada de lado, muito em razão do fato de que a abordagem dominante (radical) não considera como significativa a existência de uma cultura específica, tomando-a, dentro da visão marxista que a domina, como uma superestrutura, mero elemento acessório. Como contraponto, começam a aparecer estudos que investigam e demonstram claramente a existência de uma cultura nas favelas que pode e deve ser estudada, já que desempenha — e somente agora isso aparece com uma certa clareza — um papel importante e estratégico na caracterização e definição de uma cultura local específica. A cultura local é o meio através do qual se viabilizam as relações e os processos de produção do ambiente físico e que propicia as trocas bidirecionais com a cultura nacional oficial.
Segundo Berenstein (2003, p. 51), "a discussão das questões culturais e principalmente estéticas das favelas sempre foi um tabu, mesmo sabendo-se que o samba e o carnaval (e várias outras festas populares e religiosas), ícones da nossa cultura popular, se desenvolveram e têm ligação direta com esses espaços".
A ligação entre samba e favela, só para dar um exemplo, é apontada por Oliveira e Marcier (2003, p. 82), em seu trabalho sobre as favelas do Rio de Janeiro:
Paralelamente à sua configuração como espaço do pobre, a favela viria a se consagrar também como espaço do samba. Tal associação, que na verdade se faz entre samba e morro, de tão forte e recorrente na produção musical, tende a ser tomada como elemento constituinte da própria definição de favela.
A partir do trabalho desses autores, a favela caracteriza-se como um espaço produtor de um tipo de cultura veiculada principalmente pela música, mas que não se limita ao samba e ao carnaval, os quais, embora continuem se perpetuando ano após ano, evoluem através de e para novas tendências. Para evidenciar essa evolução, basta que se pense, por exemplo, no funk e no hip-hop[6], gêneros musicais que se alastram da favela para o resto da cidade e que são manifestações em linha com a evolução da sociedade brasileira contemporânea.
França e Bayeux (2002, n.p.), em um artigo de apresentação da exposição brasileira na Bienal de Veneza de 2002, cujo tema era a favela, abordam essa diversidade de identidades, afirmando que elas devem ser compreendidas para que possam ser adequadamente operadas do ponto de vista projetual:
É necessário considerar a cidade não como um todo orgânico e uniforme, mas como um conjunto de coletividades que devem ser pensadas em função de suas personalidades específicas, garantindo-lhes, assim, sua próprias identidades. Ou seja, se por um lado para o arquiteto esta diversidade significa complexidade, por outro torna-se um desafio instigante para o pleno exercício de sua atividade criadora.
A atividade criadora é um elemento que permeia esses lugares de tal maneira, que neles não se pode operar sem aderir a ela. A atividade criadora é uma postura que não é nem deve ser privilégio único do arquiteto, devendo pertencer a todo e qualquer outro profissional (geógrafo, engenheiro, sociólogo, economista, médico, pedagogo etc.) que atue ou que pretenda atuar e contribuir para a melhoria desses lugares.

2.2 Abordagem estética
A abordagem estética da favela, o terceiro tipo de abordagem, busca compreender o lugar através do estudo da imagem produzida e da paisagem que compõe junto com a cidade. Entre os poucos autores que utilizam essa abordagem destaca-se Berenstein, que reconhece a necessidade de compreender a lógica formativa e evolutiva que rege a composição para nela poder intervir:
Para intervir nesse universo espaço-temporal, em tudo diferente do resto da cidade, é imprescindível compreender um pouco melhor essa diferença. Existem algumas características básicas gerais desse processo espaço-temporal dinâmico (mais do que o próprio espaço, é a temporalidade que causa a diferença) das favelas, que são bem distintas do dispositivo tradicional de cidade formal, em grande parte projetada e construída por técnicos (BERENSTEIN, 2003, p. 53).
Ainda segundo esse autor (ibidem, p. 53), "as favelas têm uma identidade espacial própria (mesmo sendo diferentes entre si) e ao mesmo tempo fazem parte da cidade como um todo, da sua paisagem urbana". A compreensão estética da favela passaria então pela identificação de alguns elementos/gêneses desse espaço, elementos/frutos do processo, que são assim nomeados pelo autor: o "fragmento", elemento constituidor da íntima essência do processo iterativo de desenvolvimento da produção vernácula desses espaços; o "labirinto", elemento que desempenha o papel de interligar, costurar e complementar os espaços compostos de fragmentos; e o "rizoma", elemento resultado e resultante da interação com condicionantes físicos espaciais artificiais de maior inércia e que se constitui em um estádio maduro e avançado do processo de crescimento e consolidação da favela dentro da cidade.
Nessa primeira tentativa de criar categorias de análise para o entendimento das questões estéticas das favelas, o que o autor defende é a necessidade de dirigir a esses espaços um olhar que permita compreender as lógicas compositivas e os elementos básicos da sua formação. Se, por um lado, a proposta apresentada é cativante e fascinante, por outro ela peca na fase operacional, não indicando caminhos propositivos satisfatórios e limitando-se a sugerir, após a fase de análise e busca das lógicas existentes nesses espaços e dos elementos compositivos caracterizados, um tipo de intervenção baseado no conceito de "intervenção mínima".
Segundo Berenstein (2001), a intervenção mínima redimensiona o papel do arquiteto e do urbanista, tornando-o viável na medida em que
é possível ‘urbanizar’ preservando-se a alteridade das favelas, através de uma metodologia de ação (intervenção mínima), sem projeto convencional, inspirada na própria estética da favela. [...] Para se preservar o espaço-movimento [característica esta, para o autor, peculiar da favela], deve-se tentar agir sem um projeto convencional, atuando por micro intervenções, ou seja, intervenções minimais que sigam o fluxo natural e espontâneo que já existe na favela.
Trata-se de uma visão que, embora específica, tem o mérito de abrir o debate a respeito de temas e questões muito pouco trabalhadas pela academia, em boa parte devido ao tabu que ainda existe em olhar a favela através dessa perspectiva. É por essa razão que propostas desse tipo se prestam a críticas quando contrapostas a outros tipos de visão ou complementação.

2.3 Abordagem antropológica
A abordagem antropológica constitui o quarto tipo de abordagem e encontra-se ainda incipiente, apesar de suas enormes potencialidades. Através das palavras de Fonseca (2000, p. 14), um dos poucos autores que trabalham com essa abordagem, entende-se a necessidade desse tipo de estudo:
Há séculos, o discurso das classes privilegiadas sobre o comportamento dos pobres oscila entre a compaixão e a condenação indignada. Enquanto os etnólogos vão longe para encontrar povos exóticos, cujo estudo nos ensina "verdades fundamentais do homem", os costumes dos nossos pobres apenas são considerados para facilitar intervenções educativas (para "ajudar" ou "recuperar"). Em nossas favelas raramente reconhecemos uma cultura digna de interesse quando não há um distanciamento étnico (ciganos, negros etc.) ou histórico (quilombos do século XVIII). Por mais que se admita que "eles", os pobres nos seus guetos, sejam nitidamente diferentes de "nós", esta diferença é interpretada como forma degenerada ou patológica de nossa organização social, ou seja, a das classes dominantes. Para falar de povos longínquos, agilizam-se conceitos tais como "ritos agonísticos", "sociabilidades tribais" e "famílias consangüíneas". Chegando perto de casa, estes são substituídos por termos tais como "violência", "promiscuidade" e "famílias desestruturadas".
Esse tipo de abordagem tem um papel importante quando se pretende encontrar as relações existentes entre as práticas utilizadas e os espaços produzidos e identificar de que maneira os espaços são emanação de práticas culturais/antropológicas e vice-versa. Para fazer isso não será necessário começar do nada, pois existe, como nos informa Fonseca (2000, p. 217), um conjunto de estudos relativamente recentes[7], produzidos no final da década de oitenta, cujos autores "se dirigem aos bairros da periferia para estudar as dinâmicas culturais próprias desse meio: a música, os circos, os clubes de futebol, a organização familiar, as formas de participação política etc.".

2.4 Abordagem ambiental
A abordagem ambiental é a última abordagem aqui considerada como alternativa. Como foi mencionado já no início deste artigo, essa visão foi adotada para o estudo das favelas, nas últimas duas décadas, mais como efeito da universalização do uso dessa abordagem e acabou por ser manipulada e transformada de maneira a se encaixar como mais uma ferramenta de análise da abordagem radical. A abordagem ambiental, à qual se pretende remeter enquanto verdadeira abordagem alternativa para estudo, análise e compreensão da favela, tem suas raízes na visão integrada de meio ambiente proposta por Hard (1973) e Leser (1978), que funde o conceito de ecologia ao conceito de paisagem da escola geográfica alemã, dando origem ao conceito de Landschaftoekologie, "no sentido de um estudo integrado de um sistema eco-ambiental, mais amplo que o estudo da Landschaft como estudo do meio ou ambiental (Lebenraum)" (KOHLER, 2004, n.p.). Essa abordagem ainda não foi testada, mas acredita-se que possa fornecer importantes contribuições, devido à sua maneira de enxergar a favela, ou seja, como uma "porção limitada qualquer da Geosfera, ou Espaço geográfico, zona de interação da Lito-, Pedo-, Hidro-, Atmo-, Biosfera, esta última englobando a Antroposfera" (ibidem, n.p.).

3 Discutindo outra abordagem
O que foi visto até agora fornece um quadro articulado e, por isso, positivo, mostrando que existem abordagens alternativas, cada uma delas possuindo, em diferentes graus, potencialidades que ainda devem ser exploradas integralmente e encontrando-se em um estágio diverso de teste e aplicação para essas áreas.
Outro elemento positivo desse quadro é a adoção explícita de uma nova postura por parte dos pesquisadores, pautada na busca da produção de um conhecimento que se constrói cada vez mais na crítica à importação de conceitos e matrizes teóricas exógenas, sem que essas matrizes sejam testadas, adequadas, melhoradas, afinadas ou, se for o caso, descartadas. Ao mesmo tempo e cada vez com mais força, aparece o esforço pela busca e pela construção de matrizes teóricas endógenas que sejam pautadas na capacidade de compreensão desse fenômeno por parte de quem o vivencia quase que quotidianamente.
Ainda no começo da década de oitenta, Monteiro (1984) já apontava essa necessidade que somente agora está por se concretizar. Segundo ele, faz-se urgente o resgate de uma visão mais ampla e integrada de estudos geográficos que possam abranger questões antropológicas e psicológicas, devendo esse resgate partir de dentro das próprias sociedades envolvidas com essas questões:
É impossível deixar de admitir ou ignorar que, ao mesmo tempo, existem espaços "edificados" que traduzem diferentes graus de "derivações" dos ecossistemas primitivos, de onde provêm "os recursos explorados". Exploração esta que faz com que esses recursos sejam "percebidos" pelas decisões de poder, dentro de contextos "culturais" de uma realidade social. Não apenas as lentes reveladoras do econômico e do social são aquelas necessárias ao aparato ótico do geógrafo. Por que não incluir, sobretudo em benefício daquela "visão para dentro", as lentes do antropológico e do psicológico para melhor compreender a história que tem criado as diferentes geografias? (ibidem, p. 23).
Esse processo — que, segundo ele, não pode ser totalizante — busca como fim último o conhecimento e envolve um conjunto de dimensões e posturas que deveriam partir do próprio agente investigador (indivíduo) e neste encontrar justificativa, a partir de sua bagagem de experiências e de suas capacidades cognitivas e intuitivas:
O conhecimento geográfico pode produzir-se pela "experiência" pessoal, através da percepção (espontâneo), por meio da "aprendizagem" (reflexão crítica) e ajudado pela "memória" (do passado) e pela "imaginação" (para o futuro). E, nessa travessia, a "lógica" (racional) não está necessariamente desacompanhada da "fé" (paixão), sobretudo porque não se trata de um processo isolado, mas que se realiza no coletivo sociocultural (ibidem, p. 23).
Na sua proposta está implícito o reconhecimento da necessidade de alcançar uma visão que, afastando-se do perigo da especialização e conseqüentemente da parcialidade, seja abrangente, chegando a integrar todos os campos do conhecimento. Essa exigência não é casual, mas responde a uma demanda que acabou transparecendo na análise das novas abordagens, já que estas, apesar de constituírem avanços significativos, pecam por se mostrarem tímidas no que diz respeito à capacidade de se integrarem umas às outras como peças de um quebra-cabeça. A única exceção talvez seja a última abordagem apresentada, que, mesmo assim, deve ser vista com reservas, em razão de ser sua aplicação ainda muito incipiente.
Dentro do contexto apresentado, torna-se prioritária a busca de uma visão que opere de forma a integrar as abordagens vistas anteriormente, respeitando-as, garantindo suas autonomias e evitando um processo de incorporação instrumental.
A busca de Monteiro vai nesse sentido, e sua proposta aponta para a criação, como ele mesmo afirma, de "um pensamento não radical e integrativo da natureza e do homem" (MONTEIRO, 1984, p. 25). Esse pensamento busca a descoberta e a compreensão das conexões e das ordens existentes entre os fenômenos, uma tarefa que, segundo Sauer (1998, p. 17), é cientifica e "a única à qual a geografia deveria devotar suas energias".
Sauer (1998, p. 22) é o primeiro autor a encarar essa tarefa — que, segundo ele, é da própria geografia — como "o estabelecimento de um sistema crítico que envolva a fenomenologia da paisagem, de modo a captar, em todo seu significado e cor, a variada cena terrestre". Seu principal trabalho, "A morfologia da paisagem", publicado nos anos trinta do século XX, considera a paisagem como uma entidade possuidora de uma qualidade orgânica, "uma forma da terra na qual o processo de modelagem não é de modo algum imaginado como simplesmente físico" (ibidem, p. 23). Ainda segundo Sauer (1998, p. 23), e até como conseqüência do que foi dito aqui, a paisagem "pode ser, portanto, definida como uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais", inter-relacionadas dinamicamente ao longo do tempo. De acordo com o autor, as formas "constituem uma realidade como um todo, que não é expressa por uma consideração das partes componentes separadamente; a área tem forma, estrutura e função e, daí, posição em um sistema, sendo sujeita a desenvolvimento, mudanças e fim. Sem essa visão de realidade da área e de suas relações, só existem disciplinas específicas e não, a geografia como é geralmente entendida" (ibidem, p. 22). Ao longo do seu trabalho, Sauer (1998, p. 30) faz uma distinção entre paisagem natural e paisagem cultural:
A área física é o somatório de todos os recursos naturais que o homem tem a sua disposição na área. Está além da sua capacidade acrescentar qualquer coisa a esses recursos; ele pode "'desenvolvê-los", ignorá-los em parte ou explorá-los. A segunda metade da paisagem, vista como uma unidade bilateral, é sua expressão cultural. Há uma forma estritamente geográfica de se pensar a cultura, a saber, a marca da ação do homem sobre a área. Podemos pensar nas pessoas como associadas dentro e com uma área, como podemos pensar nelas como grupos associados por descendência ou tradição. No primeiro caso, estamos pensando em cultura como uma expressão geográfica, composta de formas que são uma parte de fenomenologia geográfica. Sob esse aspecto, não existe lugar para um dualismo de paisagem.
Essa distinção tem por objetivo esclarecer e definir a paisagem natural e a paisagem cultural, enfatizando a necessidade de uma postura analítica que busque entender as relações e conexões existentes entre elas:
A paisagem cultural é modelada a partir de uma paisagem natural por um grupo cultural. A cultura é o agente; a área natural é o meio; a paisagem cultural, o resultado [...] A paisagem natural é evidentemente de fundamental importância, pois ela fornece os materiais com os quais a paisagem cultural é formada. A força que modela, entretanto, está na própria cultura (SAUER, 1998, p. 59).
A compreensão da paisagem passa, segundo Sauer, pelo método morfológico, um método que, como ele reconhece, pode ser um caminho também para as ciências sociais. Para confirmar isso, o autor (ibidem, p. 33) menciona o exemplo da antropologia, ciência em que, segundo ele, esse método foi utilizado com maior sucesso:
Essa ciência pode se vangloriar de uma lista de honra de pesquisadores que tiveram a paciência e a habilidade de abordar o estudo das instituições sociais de forma fenomenológica, através de classificação das formas, desde aquelas materiais concretas, como o vestuário ou a habitação e as ferramentas, até a linguagem e os costumes de um grupo, desse modo, identificando passo a passo a complexa estrutura da cultura.
Monteiro (1984, p. 25) também reconhece que a compreensão da paisagem passa inevitavelmente pela análise da morfologia, que deve ser ampliada, concentrando-se em volta da percepção, especialmente daquela
vivida e compartilhada [que] se constrói na intersubjetividade e passa a ser o elemento "constituinte", deslocando a reflexão da consciência para o corpo. O "ESPÍRITO BRUTO" que se torna necessário redescobrir é um imperativo que advém dessa corporeidade reflexionante, que é, antes de tudo, um campo transcendental onde se fundam todos os níveis constitutivos,
chegando a incluir a análise do aspecto fenomenológico que "transparece ou transcende na intercessão das experiências individuais múltiplas, pela engrenagem de uma sobre as outras, sendo, portanto, inseparável não só na subjetividade como na intersubjetividade (do indivíduo à sociedade)".
A abordagem apresentada por Sauer e Monteiro para a análise da paisagem, baseada no estudo da morfologia em seu sentido mais abrangente, pode ser usada para a análise da favela. Entretanto, como os autores não abordam as questões relativas à sua operabilidade, faz-se necessário perguntar: quais seriam os instrumentos alternativos e novos que esse tipo de abordagem oferece para que seja possível encontrar caminhos que, para além da compreensão, possam promover diretrizes e propostas coerentes de intervenção nas vilas e favelas?

4 Abordagem fenomenológica de Malard
O primeiro autor a articular uma resposta coerente para esse tipo de questão foi Malard (1992, 2001, 2002). Valendo-se de um enfoque baseado em conceitos à primeira vista eminentemente arquitetônicos, ele conseguiu desenvolver uma aplicabilidade que vai além das questões habitacionais. Essa avaliação é feita por Souza (1998), que testou a dimensão urbanística da teoria de Malard, aplicando-a a uma rua do bairro Santa Teresa, em Belo Horizonte. Os resultados apresentados por Souza confirmam sua validade, abrindo a possibilidade de ela ser validada e aplicada para o estudo e a análise da favela. Não existem ainda exemplos de aplicação dessa metodologia para essas áreas, mas espera-se que isso seja feito logo. Parece evidente, entretanto, que a teoria de Malard possa chegar, de fato, a definir diretrizes e caminhos que possam promover processos e propostas coerentes de intervenção para uma melhoria que seja efetiva, isto é, condizente com o lugar e seus habitantes.
Para desenvolver sua teoria, Malard parte das características fundamentais do morar apresentadas por Korosec-Serfaty (1960) e que se resumem em três relações:
• estabelecimento de um interior/exterior;
• estabelecimento de visibilidade;
• apropriação.
As três característica apontadas por Korosec-Serfaty podem ser inscritas, segundo Malard et al. (2002, p. 36), em quatro conceitos que, sendo os pontos cardeais de sua proposta, compõem a experiência do morar, ou seja, aquela de "usufruir a privacidade de um território delimitado fisicamente, caracterizado socialmente e qualificado ambientalmente". Esses conceitos são territorialidade, privacidade, identidade e ambiência[8], e neles se encontram, integradas, todas as abordagens vistas anteriormente, definidas como "abordagens não convencionais". Cada uma delas encontra seu lugar em um ou mais conceitos, resultando estes últimos exaustivos no que diz respeito à capacidade de leitura e entendimento do espaço construído.
Com os conceitos definidos por Malard et al. (2002, p. 26), os quais "se constituem nas dimensões fenomenológicas do habitar", Souza (1998, p.52) consegue simultaneamente integrar as abordagens existentes e conceituar a habitabilidade "através de dimensões existenciais que devem ser compreendidas como dimensões dadas a partir da totalidade do homem no espaço" ou, como ele mesmo indica, "a partir dos eventos, que são as atividades humanas que implicam em interações com as coisas ou com outras pessoas".
A justificativa para a escolha desse método é dada pelo fato de ser ele "um modo aparentemente mais abrangente e profundo para tratar a complexidade do conceito de habitar, uma vez que considera o homem e seu meio como uma totalidade" (SOUZA, 1998, p. 50). Nessa afirmação de Souza, estão implícitas muitas das considerações feitas por Sauer e Monteiro. O mesmo autor, citando Gomez[9], indica como a abordagem fenomenológica pretende recuperar a dimensão existencial em todas as áreas do saber, salientando que o enfoque fenomenológico na teoria de Malard "é uma tentativa de fazer a convergência das contribuições de diversas áreas do saber para o campo da arquitetura, uma vez que se consideram todas elas, o que, através da fenomenologia, resgata a dimensão da existência humana, indaga sua finalidade e dá sentido ao fazer do homem" (SOUZA, 1998, p. 52).
Através das palavras de Souza (1998, p. 53), compreende-se como a proposta de Malard pode ser aplicada em diversas escalas, sem com isso perder sua efetividade: "a identidade e o valor da casa só podem ser compreendidos quando a casa é tornada pública, quando é considerada uma casa em uma rua. A rua é assim concreção do espaço existencial, no qual o sentido é o da casa que se apresenta ao público e onde o que é público realiza a autenticidade da presença da casa". A efetividade da proposta está, além de na abordagem fenomenológica integral e ampliada, na operacionalidade do chamado "conflito arquitetônico" e na sua aplicabilidade em uma variedade de âmbitos e escalas através das análises espaciais, possibilitando o desenvolvimento de intervenções propostas pelas próprias comunidades.
O conceito de conflito arquitetônico tem suas raízes em Heiddeger (1962), o qual define a essência de um objeto: se for criado para desempenhar uma determinada função, o objeto será ready-to-hand; caso contrário, será unready-to-hand. Segundo Malard et al. (2002, p. 38), "todas as situações causadas por 'unreadness-to-hand' são conflitos que revelam a própria essência do elemento que falhou, permitindo-nos capturar essa essência teoricamente, ao observar e analisar o conflito".
O conflito pode ser encontrado tanto na edificação em si, quanto no espaço público e dentro do conjunto dos espaços construídos. Os conceitos de territorialidade, privacidade, identidade e ambiência podem ser aplicados da mesma maneira nesse conjunto de escalas e âmbitos, sem perder seu sentido. Como afirmam Malard et al. (2002, p. 38), os espaços arquitetônicos em todos os seus componentes — entendendo-se com isso aqueles espaços produzidos pelo homem — "são sempre lugares significativos porque são especializações da práxis social e, assim sendo, eles revelam muitas pistas sobre comportamento e relações sociais. Essas pistas são reveladas através dos conflitos que surgem nas interações entre moradores e moradias".
A abordagem de Malard inclui alguns aspectos que, tendo sido pouco discutidos até agora, precisam ser colocados para consubstanciar as razões que determinaram sua escolha como aquela que permite compreender a complexidade da favela na multiplicidade de seus aspectos e dimensões e resgatar uma ação coerente com a natureza desse espaço.
As questões ligadas ao habitar tratadas nas análises espaciais através do conflito arquitetônico determinam o local como dimensão natural para essa abordagem, excluindo, dessa maneira, a dimensão do global como ponto de partida. A abordagem não exclui, a princípio, a dimensão do global como uma das dimensões da intervenção, mas mostra como esta pode ser inoperante, além de equivocada e prejudicial, se tomada a priori como condição operativa incondicional.
Dessa maneira, a abordagem de Malard vira às avessas a visão crítica convencional que, como foi visto no começo deste trabalho, postula a necessidade de pressupostos ideológicos de caráter universal como condição inicial para qualquer tipo de atuação.
As atuações decorrentes da aplicação da abordagem de Malard buscam e encontram seus conteúdos na dimensão local na medida em que o lugar e seus componentes são desvendados, tornando-se legíveis e transformando-se em conhecimento. A força dessa abordagem está na apropriação, em termos operativos, desses conteúdos específicos oriundos do próprio lugar, que se caracterizam como conteúdos estruturadores, representando as chaves para pautar:
• trocas bilaterais entre observadores e observados;
• discursos de atuação pragmáticos baseados nas reais exigências e necessidades;
• propostas baseadas nos recursos existentes no lugar;
• propostas sistêmicas e integradas de intervenção.
A viabilidade do que foi dito até agora passa pela necessidade de criar processos de investigação e atuação que partam das comunidades e que sejam geridos por elas, sob pena de invalidar e esvaziar a proposta do conteúdo supracitado. No contexto atual, trata-se da necessidade de ter um genuíno processo de autogestão pautado na inter-relação entre agente local (comunidade) e agentes parceiros (sociedade civil). Esse processo é, a nosso ver, o motor que vai tornar operativa uma abordagem como essa.
O acréscimo do adjetivo "genuíno" ao termo autogestão não é casual: visa a distinguir uma autogestão de fato, onde existem autonomia e controle total do agente comunitário, de uma autogestão fictícia, a mais presente hoje em dia, que é via de regra fomentada e conseqüentemente desvirtualizada por um poder público que não tem ainda, e talvez nunca terá, a capacidade de delegar às comunidades a organização e o controle de si mesmas. Isso confirma que se trata de um paradoxo falar de autogestão fomentada pelo poder público.
Dimensão local, conhecimento local como fonte de conteúdos, autogestão e visão sistêmica integrada constituem aspectos ainda hoje não abordados como conseqüências operativas da abordagem de Malard.
Achamos, entretanto, que existe uma segunda dimensão, sucessiva à implantação das práticas oriundas dessa abordagem e resultado da multiplicação das intervenções. Trata-se da dimensão global requalificada, resultado — e não, pressuposto — do conhecimento pautado no local. Com ela poder-se-ia reverter a proposta convencional crítica e radical, definindo-se políticas específicas predominantemente — mas não exclusivamente — sociais, a partir da dimensão local e sem a intromissão do agente público, que teria seu papel redefinido. O poder público seria finalmente destituído de seu atual papel primário para se tornar mais um entre os agentes existentes na sociedade civil.
Como último mas não menos importante aspecto, vale dizer que a proposta busca uma integração social entre as bases da sociedade atual e os setores interessados — em geral, as organizações da classe média — em se envolver nesse processo (entre estes cabe destacar aqueles que mais poderiam contribuir para sua viabilização: as universidades, as associações de profissionais, as associações beneficentes, as associações religiosas e as próprias Igrejas, as empresas etc.).

5 Conclusões
A crítica à abordagem radical oficial permitiu-nos ter uma visão das outras abordagens utilizadas para a compreensão da favela, buscando entender as potencialidades de cada uma delas em termos de análise e de aplicação na melhoria desse lugar.
Em termos gerais, a maioria das abordagens existentes traça direções, alternativas e possibilidades de investigação ainda não exploradas, permanecendo, por isso, com uma capacidade de síntese e abrangência aquém da tão criticada abordagem radical.
Conclui-se que a alternativa capaz de substituir a abordagem radical, sem contudo perder sua aplicabilidade em um conjunto variado de escalas e contextos, seja a abordagem fenomenológica proposta por Malard, a qual não exclui as outras abordagens mas, pelo contrário, chega a se caracterizar como o âmbito no qual estas podem encontrar pontos em comum e finalmente se integrar dentro de um marco potencializado pelas contribuições teóricas que viabilizam, além de sua compreensão, sua aplicabilidade para a solução dos problemas do dia-a-dia e para a melhoria desses lugares.

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Notas

[1] Professor do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas; Pesquisador do Observatório das Metrópoles – Núcleo Minas Gerais; Doutorando da Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial, PUC-Minas.
[2] Esses processos que atingem os âmbitos social, político, econômico, cultural e ideológico são: a redemocratização do país, a abertura econômica, o processo de globalização, a descentralização administrativa e das políticas públicas, a estabilidade econômica, os novos objetivos e as novas políticas das instituições financiadoras da cooperação internacional.
[3] Lembramos que a maioria dos países da África e em parte da Ásia, ao contrário do que aconteceu na América Latina, alcançaram sua independência somente nas últimas décadas da primeira metade do século XX.
[4] Sugere-se a ampliação das instâncias de conhecimento e estudo, através do envolvimento da própria população como agente conhecedor e investigador de si mesmo.
[5] Existe atualmente uma certa esperança de que essa instância abrangente seja incorporada pelo recém criado Ministério das Cidades.
[6] Para um aprofundamento sobre tal fenômeno, sugere-se a leitura de HERSCHMANN, M. O funk e o hip-hop invadem a cena. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
[7] Como exemplos desses estudos, a autora cita: ZALUAR, Alba. A máquina e a revolta: as organizações populares e o significado da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 1985; MAGNANI, Guilherme Cantor. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São Paulo: Brasiliense, 1984; DUARTE, Luiz Fernando. Da vida nervosa das classes trabalhadoras urbanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1986; CALDEIRA, Tereza. A política dos outros: o cotidiano dos moradores da periferia e o que pensam do poder e dos poderosos. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1984.
[8] Para aprofundamento das características, das origens e das contribuições teóricas para a definição desses conceitos, sugere-se a leitura de MALARD (1992) e SOUZA (1998).
[9] GOMEZ, A. P. La gênesis y superación del funcionalismo em arquitectura. México: Editorial Limusa, 1980.









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