sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ensino de Arquitetura e Urbanismo


O saudoso arquiteto Joaquim Guedes concedeu uma entrevista ao site ArcoWeb. Compartilho um trecho com vocês e o comento.

Nesse trecho, ele afirma que o aluno dedica apenas um pouco mais de 8% do tempo ao projeto. Para Guedes, isso é insuficiente.

É óbvio que o entrevistado não deseja o fim do estudo das teorias. Apenas ressalta a importância em se aplicar esse estudo, juntamente com a análise de outras obras, á prática projetual.

Na esteira dessa observação, a PUC alterou o currículo dela onde o aluno desde o início do curso começa a projetar ou a ter uma noção do que vem a ser o projeto.

Integrando todas as disciplinas do período, os alunos ficam mais seguros e livres para projetar algo para um lugar ou alguém. Dessa forma, o aluno fixa todos os conceitos de desenho técnico e gráfico, além de teoria. Ou seja, a participação dos alunos em atelier ou estúdios é mais intensa. E os alunos podem contar com todos os professores das disciplinas do período para debater e discutir o projeto. É o que pretende-se: aliar o ensino de teorias com a prática projetual desde o primeiro período ou desde cedo. É uma sensação muito boa, no primeiro período, você conseguir projetar algo e bem fundamentado, dentro daquilo que foi ensinado.

Além disso tudo, reforçando a tese do professor e arquiteto Guedes, o Escritório de Integração poderá contribuir e muito no ensino teórico-projetual dos alunos, desde que haja possibilidades de firmar convênios e parcerias com empresas, ONGs, Poder Público e afins para a consecução de projetos que estejam dentro da proposta do Escritório. E o Escritório poderá contribuir e muito no ensino de tecnologias, tema pouco estudado nas escolas, segundo Guedes.

Desde que conheci o DAU e o EI da PUC percebo um certo pensamento institucional. Todos procuram deixar os motivos pessoais de lado para investirem no bem do ensino. E isso é bom e fundamental. Caso contrário, a Escola estará fadada ao fracasso. Assim como o ensino. Mesmo a PUC. Essa visão é de um aluno, claro. Mas pode ser verdadeira.

Enfim, a implantação do currículo está no início e toda mudança é cara e dolorida. Em que pese as falhas, penso que as qualidades desse currículo contribuirão muito para um ensino de qualidade. Principalmente porque os professores demonstram estarem atentos à mudança.

Segue o trecho da entrevista:

"Depois de 42 anos dedicados ao ensino, como o senhor vê o ensino, hoje, no Brasil e comparado ao cenário internacional?

Ao que parece, há uma grande insatisfação mundial, porque se sente muita dificuldade de diálogo entre os vários departamentos das escolas. No caso brasileiro, a competição entre professores é muito grande em algumas escolas, e ninguém admite crítica, que é fundamental para o processo criativo. Outro problema de nossas escolas é o pouco tempo destinado ao estudo de projeto. O professor Gustavo Neves da Rocha, do Departamento de História da FAU/USP, fez um trabalho muito interessante, em que constatou que apenas 8,3% do tempo do aluno é consagrado ao projeto. Isso é trágico porque, apesar de todos as cadeiras tratarem de arquitetura, ensinar projeto é bem mais do que falar de arquitetura. É mais do que uma análise comparada da arquitetura de todos os tempos. História e tecnologia são importantes, mas o tempo que se dedica a isso numa escola de arquitetura e a qualidade do ensino desses cursos têm que ser repensados. São cadeiras importantes, mas tomam muito tempo do ensino do projeto.

O ensino de história é notável; o de tecnologia nem sempre, porque não se ensina tecnologia e construção de verdade nas escolas de arquitetura. Trata-se apenas de um verniz de tecnologia; a verdadeira tecnologia fica para as escolas de engenharia e os institutos. Se, por um lado, é difícil a crítica do trabalho de um colega, por outro, também não é comum ouvir elogios ao projeto dos outros... É. E sabe por quê?

É que ninguém é perfeito. Se você vai elogiar uma coisa, tem que, em contraposição, criticar outra. Por exemplo, eu gosto demais do trabalho do [Marcos] Acayaba. Mas acho que ele se perde em formalismos estruturais que, na minha opinião, são um desvio, por mais brilhante que resulte a forma. Acho difícil só elogiar o trabalho de um arquiteto, o correto é analisar criticamente o que ele faz, destacando os pontos que se consideram positivos e mostrando aqueles com os quais não se concorda. Considero Acayaba um arquiteto de grande capacidade e ele provavelmente não está interessado em saber minha opinião. Falar bem é também falar criticamente, é preciso ir sempre a fundo nas coisas."

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