segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Favelas S/A

A reportagem abaixo mostra que os desafios para trabalhar em uma favela são mais complexos que imaginamos. Velhos paradigmas precisam acabar.

Para não estender demais esse post, em breve posso retomar essa discussão.
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"Sem direitos econômicos, favelas movimentam bilhões

Pelo menos um em cada quatro moradores do Rio vive num capitalismo sem leis, selvagem, à margem do Estado. Esse mercado paralelo, que ferve em favelas da cidade, gerou negócios que aumentaram tanto sua cotação nos últimos anos que, numa bolsa de valores imaginária, suas ações disputariam hoje os gritos mais ensurdecedores de um pregão. Longe das leis vigentes no asfalto, pulsa um mercado rico, dinâmico e, em alguns aspectos, caótico, que fatura mais de R$ 3 bilhões por ano. O Globo seguiu o rastro do dinheiro para tentar mensurar essa economia emergente, apesar dos poucos dados disponíveis, e publica uma série de reportagens que vai revelar quem lucra com esses negócios.

Brigando por um naco dessa fortuna pouco conhecida, estão atividades formais, informais e ilegais, num ambiente heterogêneo que agrega de biroscas a bancos, das "firmas" do tráfico a milícias. Os moradores formam uma massa de potenciais consumidores estimada entre 1,3 milhão e dois milhões de pessoas, com renda anual que pode chegar a algo entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões. Números que, a despeito de divergências estatísticas, fazem tinir cifrões nos olhos de qualquer empresário. Seja no varejo ou no atacado, no oficial ou no paralelo, a holding Favela S/A enriquece poucos, explora milhares e dá calote no Estado.

A desigualdade social e a falta de projetos de habitação popular já não são suficientes para explicá-las. Hoje, as favelas concentram de um quarto a um terço da população da capital e, contrariando suposições que acabaram virando verdades, elas não são mais reduto de miseráveis. A radiografia mostra que, ao contrário do Estado, que ainda não se fez presente de forma efetiva, o mercado se apropriou da dinâmica das favelas e as transformou numa potente máquina de gerar riquezas. Um fenômeno que deixou para trás alguns conceitos antigos e uma imagem romântica das favelas.

A massa de salário das pessoas foi obtida atualizando os dados do Censo do IBGE que apontavam uma renda familiar de R$ 634,50 nessas áreas, segundo dados do Instituto Pereira Passos, da prefeitura. O faturamento do comércio foi calculado a partir de estimativas de empresários de vários setores e agentes públicos, além de um censo realizado em 2000 em 44 favelas do Favela-Bairro, que apontava uma média de 91 empresas por favela, com receita média anual em torno de R$ 15 mil. São R$ 3 bilhões, sem contar os bilionários e ainda desconhecidos lucros do tráfico."

Fonte: O Globo On Line - 28/08/2008

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